Folheávamos um guia de viagens à procura de atividades para fazer em Manila, quando reparámos numa caixa intitulada “Manila for kids” onde, logo a abrir, se sugeria a visita a um museu chamado Pambata. Dizia: “a primeira paragem deverá ser no encantador Museu Pambata; as suas exposições interativas exploram Manila pelos olhos de uma criança”.
Algumas pesquisas depois, estava decidido: iríamos ao Museu Pambata logo pela manhã do novo dia. “O que é um museu?”, indagou a Pikitim, desconfiada, quando lhe contámos os planos para o dia. Quando lhe falámos da possibilidade de “entrar” num corpo humano e de brincar às profissões, não só a desconfiança desapareceu como a excitação tomou conta dela. Por essa altura, com o entusiasmo nos píncaros, já temíamos que as expectativas saíssem defraudadas.
Apanhámos um jeepney – uma longa carrinha com bancos laterais na parte traseira, transporte público usual e barato nas cidades filipinas – rumo ao parque Rizal. Desde logo a Pikitim adorou andar de jeepney (nos dias seguintes não faltaram pedidos para “dar um passeio de jeepney”), pouco se importando com os gases dos canos de escape inalados durante a viagem. Íamos com o objetivo declarado de visitar imediatamente o museu mas, ao atravessar o espaço verde do parque Rizal, a Pikitim não pode deixar de reparar num enorme parque infantil temático, com elefantes, dinossauros, tartarugas e muitos outros escorregas e casinhas de brincar em forma de animais. Resultado: mudança de planos e umas boas duas horas passadas a correr, saltar, escorregar e brincar no parque. É assim viajar com crianças!
Chegámos ao Pambata apenas ao início da tarde, repletos de excitação e altas expectativas. E a visita começou bem. Logo à entrada, o primeiro momento de entusiasmo numa sala dedicada aos oceanos, onde a miudagem podia vestir cabeças de peixes ou polvos feitas de tecido, num ambiente azul e verde a simular o fundo do mar povoado de algas, peixes e medusas. Logo a seguir, na sala ao lado, uma bancada com borboletas e uma lupa permitia ver a bicharada ao pormenor. Adiante, ainda na área dedicada à Natureza, a Pikitim aprendeu (e registou na memória, como ficámos a saber dias mais tarde) o conceito de cadeia alimentar, ao ver um peixe grande que comia um peixe pequeno que comia algas, ou uma enorme águia que comia uma cobra que comia ratinhos.
Apesar de estar a gostar, não tardou a perguntar pela sala do corpo humano. Era o que mais queria visitar.
Subimos então ao primeiro andar do museu. À entrada, uma boca aberta com a língua de fora a fazer de rampa permitia à criançada entrar na sala propriamente dita através de um tubo – o esófago. E não faltavam possibilidades de interação e aprendizagem. Ouvir as batidas de um coração em repouso, a dançar ou em esforço de corrida, visualizar o tamanho dos intestinos, observar o que acontece à comida desde a boca até à sanita, ouvir diferentes sons produzidos pelo corpo humano, completar um puzzle com os principais órgãos internos do corpo, fazer um jogo para perceber a importância do tato, ver o coração a bombear sangue… tudo numa sala multicolorida e aprazível que incentivava todos os miúdos a interagir.
Para a Pikitim, a “loucura” ficava, no entanto, paredes meias com a sala dedicada ao corpo humano: era um corredor que simulava um mercado de rua, com diferentes bancas onde ela se entreteve a brincar ao faz de conta até à exaustão (dos pais!). Foi vendedora de peixe, comercializou frutas e legumes e trabalhou numa padaria, mas a “profissão” preferida foi, sem sombra de dúvida, estar à frente de um restaurante de rua a cozinhar e servir mãe e pai transformados em clientes esfomeados. Foi a sua ala preferida do museu.
A visita prosseguiu. Numa outra sala, a Pikitim absorveu a mensagem de que é preciso poupar os recursos naturais do planeta, minimizando a água, a eletricidade e o papel que gastamos diariamente. As noções não eram propriamente novas para a Pikitim – fazemos por incutir-lhe os princípios básicos da sustentabilidade desde cedo -, mas a verdade é que, desde a visita ao Museu Pambata, essas noções parecem ter-se enraizado de forma mais profunda. Desde esse dia, não lhe falta atenção para os descuidos dos adultos: “pai, esqueceste-te de apagar a luz, é preciso poupar o planeta” ou “mãe, não estragues a folha, podemos escrever do outro lado”, passaram a ser atitudes recorrentes na Pikitim.
Sempre atenta, foi também em Manila que a Pikitim reparou pela primeira vez nos guias turísticos, motoristas de tuk-tuk e vendedores de rua apregoando gelados, bebidas ou chapéus, que volta e meia nos interpelavam. “Estes senhores só querem vender coisas”, notou. “É verdade, filha, mas é o trabalho deles”, respondemos, para que fosse tolerante e não ficasse demasiado chateada com a insistência de alguns vendedores ambulantes.
Foram dias de aprendizagem contínua, os passados em Manila. Para além do Museu Pambata e dos fortuitos contactos de rua, houve ainda oportunidade para participar num walking tour direcionado para as crianças. Foi um misto de visita ao Forte Santiago, peça de teatro improvisada e visita a um outro museu, o da Luz e Som, onde a Pikitim conheceu um pouco da história das Filipinas, em especial a recente ocupação espanhola e o herói nacional José Rizal. E a tal ponto a história ficou enraizada que foram imensos os desenhos por ela dedicados à figura de Rizal.
Ao terceiro dia em Manila, após um passeio em Intramuros – o centro histórico de Manila – mais dedicado aos pais que à petiza, a Pikitim surpreendeu-nos com um pedido: “amanhã posso ir outra vez ao museu?”, referindo-se ao Pambata, também conhecido por Museu das Crianças. Ficámos contentes, quase emocionados. Respondemos que sim, que poderia ir ao museu as vezes que quisesse. O Pambata tinha cumprido a sua missão. A primeira grande experiência museológica da Pikitim tinha ultrapassado as melhores expectativas.