O projeto Diário da Pikitim começou com uma ideia tão arrojada quanto simples: viajar a três, em família, com uma criança.
Queríamos mostrar à nossa filha, então quase a fazer cinco anos, que habitamos numa pequena gota de um grande oceano chamado Terra. Que o globo-almofada pendurado no seu quarto é, afinal, feito de uma enorme diversidade e que, no lado oposto desse globo terrestre, os meninos vivem e falam e brincam de forma diferente, mas são apenas meninos como ela.
Queríamos mostrar-lhe que é com as mãos na terra que se talham as experiências e as recordações mais duradouras. E que se adquire conhecimento, que se apreende com a diversidade, que se ganha maior respeito pela Natureza.
A pequena Pikitim, por seu lado, já nos havia mostrado também, por experiências de viagem anteriores, que tinha aquela curiosidade-esponja que tudo absorve. E que tinha uma capacidade de observação notável, que nos fazia parar para explicar aquilo que, por defeito e rotina, quase pensávamos que nem precisaria de explicação.
Queríamos, pois, descer à terra, com ela, para reparar, questionar, aprender. E queríamos voar nas asas dela – que nada, nem ninguém, tem asas mais poderosas do que a imaginação de uma criança.
Acreditamos sinceramente que a estrada é a melhor escola da vida e sabíamos que uma viagem como a que planeávamos daria à pequena Pikitim preciosas ferramentas para o seu crescimento, sementes a partir da qual germinará uma cidadã tolerante, solidária, responsável, perspicaz. Queremos, como quaisquer progenitores, o melhor para a nossa filha – e este é o nosso caminho para lá chegar.
A família
Conheça um pouco melhor os viajantes – pai, mãe e filha – que empreenderam a volta ao mundo em família:
Filipe Morato Gomes
O Filipe viaja por paixão e profissão. Cronista e fotógrafo de viagens, percorre o mundo em busca de histórias e pessoas que dão vida às suas reportagens. É fundador e editor do projeto Alma de Viajante, um portal sobre viagens em português; orienta workshops sobre Escrita de Viagens em instituições prestigiadas como a Fundação Oriente e a Fundação Serralves; e colabora com a agência de viagens Nomad, liderando viagens de aventura para locais como a Mongólia e o Irão.
É apaixonado por fotografia, design e publicidade. Em 2004/2005, deu uma volta ao mundo com 14 meses de duração, que acabou vertido no homónimo livro. Prefere aldeias sem asfalto aos grandes centros urbanos, gosta de experimentar comidas estranhas mas não resiste à simplicidade de um bom peixe grelhado, e aprecia tanto a imensidão dos espaços abertos como a sombra de uma palmeira numa praia de areia fina. Fotografou e escreveu crónicas desta viagem.
Luísa Pinto
A Luísa é uma jornalista com catorze anos de experiência em diversas áreas do jornalismo, da economia às viagens. Pertenceu aos quadros do jornal Público mais de uma década, entidade para a qual cobriu o pós-tsunami de 2004, no sul da Tailândia e no Sri Lanka.
Desvinculou-se do jornal para poder concretizar este projeto de vida. Gosta de água – seja do mar, da piscina ou tónica – e sol, de preferência na companhia de um bom livro e com palmeiras no horizonte. Por causa desta viagem, abandonou os escritos sobre Obras Públicas e Parcerias Público Privadas, para se dedicar a outros assuntos bem mais coloridos: publicou crónicas de viagem e olhares na primeira pessoa sobre viajar em família.
Pikitim
A Pikitim – como era carinhosamente tratada pelos pais em bebé – é uma menina muito sociável, observadora, destemida, com convicções fortes e espírito de liderança (na escola, é a “ajudante” da educadora, e até já sabe que quer ser mãe, “para mandar nos filhotes”). Tem uma memória prodigiosa, adora pintar e desenhar e, acima de tudo, não passa sem livros.
Antes de partir, e nos seus poucos anos de vida, já tratava os aviões por tu, vira baleias e golfinhos em ambiente selvagem, conseguia distinguir no planisfério a localização de Portugal e já sabia que deve poupar água e separar o lixo. Dizia que queria ver cangurus na Austrália e peixinhos coloridos debaixo de água, e gostava de dormir numa casa na árvore. E, claro, estava radiante por passar um ano sem ir à escola. Foi ela quem pediu para voltar mais cedo que o previsto. Para voltar à escola de que tanto gosta.
Data de partida e duração da viagem
A viagem teve início no dia 6 de Janeiro de 2012 e durou dez meses. Regressamos a Portugal no dia 18 de Outubro de 2012.
Porquê nesta idade?
Antes a petiza pouco aproveitaria a viagem e a ideia principal foi fazer a viagem antes de começar a escola primária.
Juntos, Filipe, Luísa e Pikitim percorreram parte deste mundo, num itinerário com especial ênfase na região sul do Pacífico.