A vida faz-se de aprendizagens contínuas. É um lugar-comum dizer-se que os mais novos aprendem com os mais velhos, pela experiencia, pela atitude, por tudo. Não nego. No entanto, acrescento que o processo de aprendizagem é, e deverá ser sempre bidirecional, especialmente se viajarmos com crianças e virmos o mundo a pouco mais de um metro a partir do chão.
Sou um apaixonado por viagens. Viajo sempre que posso. E, quando não posso, viajo também, planeando viagens para outros ou simplesmente magicando naquelas que ainda farei. Quando, há cerca de onze anos, nasceu a nossa primeira filha, eu e a minha mulher assumimos que a partir do momento em que ela tivesse alguma autonomia a incluiríamos nas nossas deambulações pelo mundo. Passado pouco mais de um ano, nasceu a nossa segunda filha e aplicamos o mesmo princípio.
Contra opiniões de avós e até de pediatras, desde os dois e um ano de idade, respetivamente, que a Pilar e a Cármen têm connosco partilhado vivências e formas de ver o mundo.
Para a esmagadora maioria dos pais portugueses é inconcebível que se viaje com crianças para a Índia ou para o Egito. Para o Pantanal ou para o Atlas marroquino. “Que horror!” – hão de muitos pensar. Mas digo-vos, do fundo do coração, que as viagens em família são para nós um investimento na formação e educação das nossas filhas.
Dar-lhes a oportunidade para que elas vejam in loco aquilo a que muitos só através da televisão podem ver; ensinar-lhes que há meninos e meninas que são felizes com um décimo das coisas que elas têm em casa; mostrar-lhes que nem só de príncipes e princesas é feito o mundo, mas que, apesar de tudo, vivermos num planeta fascinante é motivo mais que suficiente para continuarmos a fazer estas viagens familiares.
As crianças (pelo menos as minhas) ensinaram-me a respeitar o tempo em viagem. E refiro-me ao tempo em sentido lato. A meia hora que passamos a comer um gelado ou a brincar com as vacas nas pastagens austríacas é tão importante como a meia hora que passamos a ver um museu ou a caminhar num trilho. Com elas o slow travel faz todo o sentido, e acabo por perceber que “menos é mais”.
Pela experiência de pai e de viajante, asseguro-vos que as crianças não se cansam. Por vezes fartam-se, concordo, mas se lhes dermos um objetivo diário a viagem fará parte integrante das brincadeiras.
Outro tema recorrente no que toca às viagens em família é a segurança. Como em tudo na vida, o bom senso deve dominar, e posso dizer que a esmagadora maioria dos países do mundo é seguro para viajar com crianças. A ideia que muitas pessoas têm sobre alguns países e regiões é enviesada e formata pela comunicação social. A experiência ensinou-me que sempre, ou quase sempre, a realidade que encontramos tem pouco ou nada a ver com as ideias preconcebidas.
Já vai longo este testemunho. Queria apenas deixar aqui o repto aos pais que resumem as suas viagens com crianças a levá-las para os “tudo incluído” da Riviera Maya, da República Dominicana ou de outro local “paradisíaco”. Experimentem levar os vossos filhos para além da vossa (e das deles) bolha de conforto. Verão que a recompensa é enorme e as alegrias múltiplas.
Um abraço e boas viagens (em família),
Artur Pegas
carla prudencio diz
Completamente de acordo com este texto. Também viajo sempre que posso e em familia, com os meus filhos de 11 e 5 anos. O primeiro fez a sua primeira grande viagem com 11 meses e a segunda arrancou com 4 meses. Até hoje nunca tivemos problemas, contrariando as opiniões e expectativas dos que nos rodeiam. Cada viajem nova começa nos preparativos e na decisão do novo destino e nesta altura já todos participam. Concordo com a frase que na maioria dos países é seguro viajar com crianças, e até muito divertido, mas a preparação é importante quando se viaja de forma independente principalmente no conhecimento sobre o país para onde se vai, depois a partir daí é usufruir…
Outra coisa, muitas vezes me disseram “para que os levam? Eles depois não se vão lembrar de nada!” particularmente quando eram mais pequenos. Isto não é verdade, eles lembram-se, aprendem e não se esquecem. Quando menos esperamos lá vem um comentário sobre uma coisa que aconteceu durante uma viajem, que já nós próprios não nos lembramos.
Lidia Craveiro diz
Concordo em absoluto consigo. Tenho um filho com 8 anos e desde os 5 meses que viaja comigo e com o meu marido para todo o lado. As recordações que ele tem são fantásticas e podem crer (quem deixa as crianças em casa) que ir com ele é muito gratificante. Vimos o mundo de uma outra perspectiva e maravilhamo-nos com as perguntas de quem está a aprender sobre outras culturas. Passamos pelas viagens do tudo incluído, mas cedo chegamos à conclusão que era muito limitado.