Depois de um sábado muito bem passado debaixo do sol e por cima da neve, deixamos a fantástica aldeia de Penhas da Saúde, perto da Covilhã, a meio da manhã de Domingo. Chovia muito, estava muito frio, não podíamos repetir as actividades outdoor com o mesmo conforto e satisfação.
O que vale é que a Pikitim e os seus amigos ainda estavam consolados com as descidas de trenó que tinham feito até à exaustão no dia anterior, e já tinham cumprido um dos objetivos do fim de semana: dar à aldeia um novo habitante, que teve direito a nome e tudo. “Tobias é um bom nome para um boneco de neve, não é?”, perguntou a Pikitim. É pois. Porque não.
O Tobias lá ficou a derreter, nas traseiras da casa que alugamos. E nós lá nos metemos no carro, para atravessar a serra, e descer até Seia. Parecia-nos um bom programa para um dia de chuva. Nenhum de nós alguma vez tinha estado no Museu do Pão e eu, pessoalmente, não tinha sequer pesquisado sobre o tipo de espaço. Por isso não sabia o que nos esperava. Tinha apenas a referência que a comida no restaurante era muito boa e que o museu tinha um espaço para as crianças muito interessante e divertido. Fomos verificar.
Que é o maior da Península Ibérica, podemos dar de barato. E também não é difícil de acreditar que é o maior do mundo, como se arriscam a dizer nos folhetos informativos que acompanham a divulgação do espaço. O Museu do Pão está empoleirado num dos acessos à cidade de Seia e é mesmo grande. E muito turístico. Porque havia sempre gente entrincheirada às portas.
O Museu do Pão propriamente dito é composto por três salas temáticas (“Ciclo do pão”, “Pão político social e religioso” e “Arte do Pão”) e uma sala pedagógica. É nesta última que vale a pena depositar todas as expectativas para quem viaja com crianças. E elas não saem goradas.
Nesta sala, as crianças saem por uns breves instantes do “mundo dos humanos” para espreitarem como era viver na serra da Estrela – ou melhor, nos Montes Hermínios, e no tempo em que Viriato era o chefe dos Lusitanos. Com a ajuda de Hermitito e dos habitantes da sua aldeia, as crianças vão ouvindo um pouco da história de Portugal e percebendo a importância de um alimento como o pão – e, claro, já agora, como se faz.
Com cereais – milho, trigo ou centeio. Com àgua. Com sal. E com fermento. “E não pode ser com açúcar?”, perguntou a Pikitim, mostrando-se mais gulosa do que o que é normalmente.
No final da visita à aldeia – montada como se estivéssemos a assistir a um espetáculo de marionetas – as crianças são convidadas a meter a mão na massa, literalmente, antes de regressarem ao mundo dos humanos. Com a ajuda de rolos da massa e o recurso a pequenas moldes, os miúdos são convidados a enfeitar um brasão-bolacha que depois vai a cozer. Quem quiser preservar a recordação só tem de a envernizar quando chegar a casa.
A entrada do Museu do Pão custa 5 euros para um adulto, e três euros para as crianças com mais de três anos e menos de 12. Vale também a pena uma incursão ao “Centro de investigação Gastronómica”, o nome pomposo inscrito nas placas que apontam o caminho para o Restaurante do Museu , e onde é possível encontrar muitos sabores tradicionais da nossa gastronomia.
Com o preço fixo de 19 euros por adulto, o restaurante oferecer bufete de entradas e de sobremesas, e um prato de peixe e um prato de carne. As crianças até aos 4 anos de idade não pagam, e as que têm entre 5 e 11 anos pagam 7,5 euros. Na quase impossibilidade de não encontrarem nada no bufete (há saladas, pataniscas, ovos) ou nos pratos de peixe e carne que integram a ementa semanal, há também um pequeno bufete infantil, com os universais e bem aceites panados e salsichas, arroz e batatas fritas. Nós comemos um belo prato de lascas de bacalhau com batatas à murro, e uma vitela assada com castanhas e arroz selvagem, muito bem confecionadas.
Uma boa surpresa, se tivermos em conta as quantidades industriais que saem daquela cozinha, para alimentar as centenas de convivas que enchiam a sala.
E até dá vontade de voltar – mas não a um domingo, e especialmente se estiver a chover.
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