Ainda o avião não tinha pousado na pista de Christchurch, a principal cidade da ilha Sul da Nova Zelândia, e já se vislumbrava o sol a nascer e a pintar de laranja os picos nevados dos Alpes do Sul. Estávamos avisados: os cenários seriam de cortar a respiração, porque as forças da Natureza tinham andado por estas latitudes a desenhar paisagens mais-que-perfeitas.
É certo que essas forças também podem ser assustadoras e destrutivas, como facilmente comprovámos no centro de Christchurch, com inúmeros edifícios destruídos e boa parte dos quarteirões do centro ainda fechados ao movimento de pedestres e carros na sequência do violento sismo de Fevereiro de 2011. Mas são, sobretudo, talentosas, essas forças.
É preciso ser muito exigente e perfeccionista para conseguir desenhar um cenário como aquele que vimos a partir do Astro Café, em Monte John, uma colina sobranceira ao majestático lago Tekapo. Com águas de um inacreditável azul-turquesa, calmas e escuras, o lago Tekapo mais parecia um espelho destinado a reflectir as silhuetas alpinas onde não poderia faltar o Monte Cook, o pico mais alto da Nova Zelândia. No alto do sobranceiro Monte John, e com uma panorâmica que permite um ângulo de 360 graus sobre a bacia de MacKenzie, a beleza chega a espantar.
A paisagem alpina, as planícies de MacKenzie, muita floresta, algum gado, cores quentes do Outono, e a pequena Igreja do Deus Pastor lá ao fundo – o cenário era tão perfeito que um casal japonês o escolheu como pano de fundo para as poses fotográficas do livro de noivado.
A Pikitim estava deliciada com as vistas “para baixo”, em terra, onde a pequena aldeia de Tekapo lhe parecia ter a forma de “um oito”, e deslumbrada com o cenário lá em cima, no céu. Sobretudo depois de a terem deixado “espreitar para dentro do sol”, pelo telescópio do observatório astronómico instalado lá no topo.
O Observatório de Monte John resultou de uma parceria das universidades de Canterbury (Nova Zelândia) e de Nagoya (Japão), que não quiseram deixar de aproveitar aquele que é considerado um dos céus mais limpos da Nova Zelândia, não só pela latitude em que se encontra, mas também pela estabilidade e transparência da sua atmosfera e pela poluição reduzida. E o espanto da Pikitim foi enorme: “Afinal, o sol é vermelho!”, constatou, espantada, enquanto pedia para espreitar outra e outra vez pelo telescópio para a “bola de fogo”.
Como é natural, a Pikitim gostou do poder que lhe dava um telescópio, e ficou delirante quando percebeu que poderia voltar à noite para ver as estrelas. O convite foi feito por uma portuense de gema que vive em Tekapo e reconheceu o sotaque da Pikitim mal ela entrou no Astro Café. Patrícia Baptista convidou-a a voltar a subir ao Monte John à noite para ver as estrelas “arco-íris” e planetas com anéis brilhantes à volta. Era um convite irresistível!
Só o percurso de regresso ao Monte John, de noite, por si só, já merecia a viagem. Foi uma emoção: subir o monte com as luzes do carro apagadas (para não interferir nos trabalhos de pesquisa do poderoso microscópio gravitacional MOA) e uma temperatura exterior a rondar os zero graus. Mas todos estávamos quentes e muito animados com a aventura.
Chris, um dos astrónomos do observatório, começou a descrever o céu do hemisfério sul (“tão límpido que permite ver toda a via Láctea e inclusive as nuvens de Magalhães”) e a mostrar como as estrelas se mexem, mas foi só quando falou em pedir desejos às estrelas que a atenção da Pikitim ficou verdadeiramente sintonizada. “Se nós pensarmos num desejo, temos de lhe dizer qual é?”, sussurrou, preocupada. Apesar da resposta negativa, confessou que o que mais gostaria de ver naquela noite era uma estrela cadente. E não falou mais no assunto.
Depois das explicações, seguiu-se a possibilidade de ir “espreitar para o planeta dos anéis”. A Pikitim posicionou-se na dianteira da fila para ver Saturno, para logo reclamar que não via “nada!”. À segunda tentativa, ajustado o banquinho e o telescópio gigante, soltou os ansiados gritinhos: “Já vi! Já vi!”. Também “olhou para dentro” de Marte e viu que era “uma grande bola branca, muito iluminada e brilhante”, e depois foi olhando por outros telescópios para muitas estrelas e nebulosas. E foi ficando triste. “Eu pensava que as estrelas tinham muitas cores, e eu só vejo estrelas brancas. E não brilham assim tanto”. Quanto mais pensava, mais inconsolável ficava.
Chris saiu em socorro da Pikitim, e prometeu que lhe haveria de mostrar uma “disco star”. Mas o brilho da estrela que espreitava através do telescópio continuava a ser muito diferente daquele que havia imaginado :“já percebi que vão mudando de cor, mas não brilham com todas as cores do arco-íris ao mesmo tempo! Assim não tem graça”, disse, mergulhando numa visível frustração. Estava já ao colo, a ouvir as tentativas da mãe de explicar que, às vezes, as coisas não são exactamente como as imaginamos, quando interrompeu: “Mãe, vi uma estrela a mexer-se!”. “A sério? Então devia ser uma estrela cadente…”, entusiasmou-se a mãe. “Não sei”, respondeu ela, e continuou: “a estrela fez um risquinho no céu, mas ia muito depressa! E não estava a cair para baixo, fez assim, um risco para cima”, explicou com detalhe, apontando o dedo para os céus. “Era uma estrela cadente?”, perguntou, ansiosa. “Então, o meu desejo realizou-se!”.
Antonio Luzio diz
Caros viajantes e com emoção que leio esta vossa crónica sobre as deslumbrastes paisagens da ilha Sul da nova zelandia, as viagens tem destas coisas passado quase um ano da minha viagens de um mês a nova zelandia por vezes recordo as magnificas paisagens naturais como o descrito por vos do lago tekapo ou a viagem de carro junto a costa De Duniden a InverCargil.
Enfim vou seguindo a vossas crónicas no fugas para recordar e para sentir o espirito de viagem.
Continuem ….. Abraços
Luísa Pinto diz
Obrigada pela companhia, António!