• Contactos

Diário da Pikitim

Viajar com crianças

  • Início
  • Viajar
  • Educar
  • Famílias Vagamundos
  • Volta ao Mundo
    • O projeto
      • Itinerário
      • Clipping
    • Fotos
      • Singapura
      • Tailândia
        • Koh Yao Yai
        • Railay
        • Koh Jum
        • Koh Lanta
        • Koh Muk
      • Malásia
        • Langkawi
      • Filipinas
        • Manila
        • Puerto Princesa, Palawan
        • El Nido, Palawan
      • Indonésia
        • Java
      • Desenhos da Pikitim
    • Vídeo
    • Diário
Você está aqui: Home / Volta ao Mundo / A “roupa da natureza” dos meninos de Tanna

A “roupa da natureza” dos meninos de Tanna

05.Set.2012 By Luísa Pinto Deixe um comentário

Parecia que estávamos a chegar à África negra. Tínhamos acabado de aterrar no pequeno aeroporto de Lenakel, ilha de Tanna, com o objectivo de tomar contacto com a vida nas mais tradicionais aldeias de Vanuatu e espreitar um vulcão activo a vomitar lava e fumo. É impossível estar mais perto de um vulcão ativo do que no Yasur – porque aqui deixam-nos subir até à boca da cratera até ficarmos praticamente dentro dela. Nós queríamos ver o vulcão, mas a Pikitim dizia que só “ao longe”, que não pretendia subir ao vulcão porque – palavras dela – é “muito nova para morrer”.

Na verdade, e apesar da espectacularidade do Yasur, porventura a principal atracção turística de Vanuatu, o que mais nos atraía em Tanna era a possibilidade de visitar algumas das aldeias tradicionais, daquelas que resistem ao passar do tempo, ao chamado “progresso”, ao ocidente e à globalização, e permanecem agarrados firmes às suas tradições ancestrais.

Vista do vulcão Yasur, principal atração turística de Tanna
Vista do vulcão Yasur, principal atração turística de Tanna

Numa ilha com tanto turismo (à escala de Vanuatu, claro está, que não são muitos os que se aventuram sequer na ilha principal de Vanuatu, quanto mais em Tanna) e com uma atracção da envergadura do Yasur, é impressionante que não se consiga encontrem em toda a ilha estabelecimentos comerciais gerido por “brancos”; nem os mais-que-globalizados-e- omnipresentes-chineses chegaram a Tanna. A capital da ilha é, aliás, conhecida como a “black-man town”, orgulhosa de deixar para os seus conterrâneos os pequenos comércios da terra. Não o conseguiram fazer, no entanto, com os resorts básicos comprados ou construídos por australianos e neozelandeses e colocados à disposição dos viajantes. Mas mesmo estes – como o Friendly Bungalows, onde nos alojamos – tentam empregar o maior número possível de pessoas das aldeias vizinhas, pelo que cada um deles só trabalha duas semanas por mês, numa espécie de turnos que permitem aumentar a empregabilidade, mesmo à custa de rendimentos menores.

A semana que passamos em Tanna, bem pertinho do vulcão Yasur, foi uma espécie de viagem no tempo, um regresso a um passado em que o relógio parou. Nas aldeias, sobrevive-se e subsiste-se com o que a generosa natureza dá mas, sendo os barcos demasiado caros para a grande maioria da população, nem sequer o peixe faz parte da dieta alimentar habitual. Comem-se raízes e frutos, e os porcos são quase mais valiosos que os Vatu que circulam em notas e moedas de mão em mão.

Crianças de Yakel, uma aldeia remota na ilha de Tanna, Vanuatu
Crianças de Yakel, uma aldeia remota na ilha de Tanna, Vanuatu

É Tomsia, temporário guia turístico que se assume como candidato a chefe da aldeia de Yakel, quem nos permite visualizar a importância dos porcos, explicando que, quando um homem pretende casar (com a mulher que o chefe da aldeia escolheu para ele), tem de pagar ao pai da noiva um valioso dote. “O quê?! Você não pagou nada ao pai da Luísa para poder casar com ela? Se fosse aqui teríamos de lhe dar… hum (e tira as medidas com os olhos)… nove porcos! Mas porcos, dos grandes!”, acrescentou, antes que pensássemos que a “mercadoria” era pouco valiosa. Tomsia conta que a visita dos turistas veio trazer uma forma adicional de subsistência à comunidade, ao cobrarem alguns milhares de vatus pela visita à aldeia, incluindo uma encenação de algumas danças tradicionais que se fazem para celebrar, por exemplo, os tais casamentos.

Nós contribuímos para a parca economia visitando duas dessas aldeias, uma em cada lado da ilha. O ideal teria sido ficar alojado nelas, como soubemos posteriormente que teria sido possível (em Yakel há uma casa na árvore onde os estrangeiros podem pernoitar), evitando as encenações e vivenciando o dia-a-dia da comunidade por dentro. Para além Yakel, terra de cinco famílias e pouco mais de 150 habitantes, visitámos também a aldeia de Tapu, ainda menor, na costa ocidental da ilha. Quando lá chegamos, uma mulher de vestido esfarrapado tocou com dois paus num tronco para chamar os outros habitantes da aldeia, e desapareceu. Indicaram-nos umas escadas e apontaram o caminho para um terreiro junto a uma grande banyan tree, onde deveríamos esperar.

Brincadeiras em Tanna
Brincadeiras em Tanna

Estava um dia de chuva, e a aldeia parecia deserta. Só se viam crianças. “Ó mãe! Aquela menina está com uma faca na mão! Não é perigoso? É uma menina, não é?”, perguntou a Pikitim, depois de reparar que ela só trazia cuecas vestidas. Ficamos sem saber o nome da menina, mas teria três ou quatro anos e estava acompanhada por Maria, de oito, que dava colo a Nato, com pouco mais de um ano. “My name is Inês”, disse-lhes a Pikitim. Nunca mais a largaram, sempre em silêncio, sempre a sorrir. Até que um assobio os fez desaparecer abruptamente. Era o sinal de que estava tudo pronto para o início da cerimónia de boas-vindas.

Primeiro, entraram no terreiro os homens, saídos do meio da banyan tree. “Não têm roupa!”, reparou a Pikitim. Começaram a bater palmas, a andar à roda, a bater com força os pés descalços no chão enlameado. Usavam apenas as ancestrais nambas nos genitais, uma espécie de bolsa de palha provocadoramente empinada com que tapam o pénis. Depois, do lado oposto, entraram as mulheres, envergando saias de palha seca. Davam saltos, enquanto seguravam os seios para turista não ver. “Já viste que estão a tapar as maminhas com as mãos?”, perguntou, para nunca mais dizer nada e ficar tranquilamente a assistir às danças, com o corpito a balançar-se ao ritmo dos cânticos. E bateu muitas palmas no final.

 

Durante a semana desportiva que aconteceu numa aldeia de Tanna perto do nosso bungalow básico, não faltaram amigos para brincar
Durante a semana desportiva que aconteceu numa aldeia de Tanna perto do nosso bungalow básico, não faltaram amigos para brincar

Por altura dos cumprimentos finais, Chuck, o chefe da aldeia, deixou-se emocionar quando soube que vínhamos de Portugal. “Tão longe! E jogam tão bem futebol! Gostávamos de ter das vossas camisolas…”, apelou, sentido. Abraçou-nos, comovido, e virou costas para buscar uma estatueta de madeira e dois colares manufacturados com sementes para nos oferecer. Colocou-nos os colares ao pescoço, abraçou-nos de novo de forma sentida, olhou-nos nos olhos como fazem os homens dignos em momentos importantes, e soltou a maior das honrarias: “Quando voltarem aqui ficam em minha casa, são meus convidados.”

Arquivado em:Volta ao Mundo Marcados com:Vanuatu

Planeie as suas viagens com crianças

Voos baratos
Procurar hotéis
Seguro de viagem


Sobre Luísa Pinto

Deixei o emprego com que sonhara (fui jornalista do Público na redacção do Porto durante 14 anos) para realizar um outro sonho que falou mais alto que qualquer carreira profissional: o sonho de viajar pelo mundo em família. Foi durante o ano de 2012. Em 2014, criei o projeto Hotelandia para celebrar os bons exemplos da hotelaria portuguesa.

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Olá, sou a Luísa

Luísa Pinto durante uma viagem em famíliaSou mãe, jornalista, viajante e a autora deste blog. Conheça-nos

Últimos posts

  • Uma coroa de margaridas, e uma linda mensagem anti-bullying
  • Yes we can
  • Famílias VagaMundos #24: Catarina Freitas e tripulantes do El Caracol
  • E este ano lá vamos nós ao Andanças
  • Diário de viagem #22: Os Golfinhos de Monkey Mia

Últimos comentários

  • Inês Rodrigues em Apanhar conquilhas na Culatra
  • Rui Ribeiro em Serra da Estrela – Uma ida à neve e uma má experiência na restauração
  • Rui Ribeiro em Serra da Estrela – Uma ida à neve e uma má experiência na restauração
  • macwintech em Serra da Estrela – Uma ida à neve e uma má experiência na restauração
  • silva em Andorra com crianças: as dicas de Isabel Sofia Silva

Onde dormir bem

Na Hotelandia estão a melhores recomendações em Portugal. No Booking encontram soluções para qualquer parte do mundo.

Hotelandia

Os nossos sites de viagens

  • Alma de Viajante
  • Hotelandia
  • Rostos da Aldeia

Sobre nós

Gostamos de viajar. De brincar ao ar livre. De ter tempo de qualidade em família. De dormir em casinhas nas árvores. De percorrer países em casas com rodas. De viajar de avião. De andar de comboio. De conhecer pessoas novas. De ter amigos de culturas diferentes. De não gastar muito dinheiro.

Sobre · Contactos

Vale a pena ler

  • Saúde em Viagem
  • Dicas para evitar o jet-lag
  • Viajar de avião com crianças
  • 5 Erros a evitar no planeamento
  • 10 dicas para uma mochila mais leve
  • Como tornar uma viagem mais barata
  • Bilhetes de Volta ao Mundo: comprar ou não

Redes Sociais

O Diário da Pikitim está presente nas principais redes sociais. Acompanhe-nos no Facebook e no twitter, e viaje nas fotos que deixamos no Instagram e nos boards do Pinterest .

  • Bloglovin
  • Facebook
  • Instagram
  • Pinterest
  • Twitter
Copyright © 2021 · Diário da Pikitim - viajar com crianças · Todos os direitos reservados · Política de Privacidade · Contacte-me