Este relato resulta de um pequeno desafio que me foi feito desde o outro lado do Atlântico, a partir do grupo Viagens em Família que acompanho no facebook. É dinamizado por Sut Mie Guibert, do blog Viajando com Pimpolhos, uma das primeiras bloggers que comecei a ler quando, há mais de dois anos, iniciei as pesquisas com mais afinco sobre este tema. A ideia da blogagem coletiva – isto é, toda a gente escrever sobre o mesmo assunto – foi de Cláudia Pegoraro, a mãe do “Filipe, o pequeno Viajante”, que acabei por encontrar num daqueles felizes acasos num camping da Nova Zelândia.
O desafio proposto a todas as participantes do grupo foi o relato de como correu a primeira viagem em família. Eu interpretei-a como uma partilha sobre como as mães de primeira viagem (eu digo sempre que a maternidade é a mais intensa e a mais definitiva de todas as viagens) se prepararam e apreciaram a primeira vez que tiraram as crianças do ninho.
A primeira viagem da Pikitim a sério, em família, só com o pai e a mãe, para uma casa alugada e depois de umas longas horas de carro, foi quando tinha pouco mais de seis meses de idade. Saímos do Porto, onde vivemos, até à zona do Alqueva, no Alentejo. Era Novembro, estava frio. Mas os preços para o alojamento são sempre mais convidativos fora de época, eu já havia regressado ao trabalho depois da licença de maternidade, mas havia uns dias de férias para aproveitar.
Já tinhamos ido passar fins de semana fora com outros casais amigos ao Alto Minho (tinha a Pikitim menos de três meses), já tínhamos ido passar umas semanas à praia da Zambujeira do Mar, também no Alentejo, mas com avós e primos. Dessa vez, no Alentejo fomos só nós. A familia mais nuclear. Pela primeira vez.
Fomos seis dias, percorrer cidades como Marvão e Monsaraz, Juromenha e Aldeia da luz. Queria voltar à região e perceber as modificações que a albufeira da barragem do Alqueva tinha feito na paisagem. Tinha deixado de amamentar há poucos dias – tinha então luz verde para voltar a beber um bom copo de vinho. E poder fazê-lo em pleno Alentejo foi algo muito auspicioso!
A viagem correu bem. Não me lembro de ter havido nenhum tipo de stress durante a viagem de carro – a Pikitim ainda não falava, pelo que não podia lançar a pergunta que todos fazem: “Já chegamos?”, “Ainda falta muito?”. Paramos pelo menos duas vezes, mais para as mudas de fralda e alimentação da cria do que para descanso do motorista. E ficamos encantados com a simpatia que nos esperava no pequeno apart-hotel que alugamos à entrada de Marvão, com vista privilegiada para a iluminação nocturna da cidade muralhada.
Quando as viagens são feitas de carro parece que cabe sempre mais alguma coisa na bagageira. Mas resisti a enfiar lá muito coisa – só de roupas, fraldas, biberons e o carrinho de passeio já há logística de meter medo. Não levamos cama de viagem – só uma alcofa portátil muito prática, que se dobra, e pode ser transportada a tiracolo, que comprei numa loja online. Não levei banheiras, nem cadeiras, só medicamentos (nos primeiros meses de vida o paracetamol vai connosco para todo o lado, não é mesmo?) e claro, alguns dos brinquedos preferidos na altura – creio que eram objetos para massajar os dentes.
Fazíamos passeios durante o dia, experimentávamos um restaurante diferente ao almoço, e regressávamos a casa antes do jantar. O cozinheiro Filipe entrava de serviço, enquanto eu preparava o banho e tratava da refeição da pequenina. Ela brincava num playgroung improvisado no chão com almofadas até chegar a hora de dormir. Depois tínhamos tempo para jantar, aquecidos pela lareira e pelo copo de vinho. Foi muito bom.
Por essa altura ainda estava longe de imaginar que as viagens em família iriam entrar de maneira tão avassaladora nas nossas vidas. Mas agora percebo mais do que nunca que o ninho é o sítio onde nós nos sentimos bem, onde descansamos. É a nossa casa. E já aí, dessa vez, em 2007, conseguimos fazer o ninho longe do lugar onde sempre moramos. Porque mais importante é voar, conhecer. Bater asas, e regressar ao ninho, para descansar. E a casa, o ninho, pode ser em qualquer parte do mundo. O que faz o ninho não é o local, é quem está connosco. E quando estamos em família, estamos sempre em casa.
Outros posts desta blogagem colectiva
– Cláudia Pegoraro, do Felipe, o Pequeno Viajante
– Sut-Mie Guibert, do Viajando com Pimpolhos
– Adélia Lundberg, do Paris des Petits
– Adriana Pasello, do Diário de Viagem
– Cláudia Müller Boemmels, do Eu sei Onde
– Luciana Misura, do Colagem:
– Andreza Trivillin do Andreza Dica e Indica Disney
– Mônica Nogueira do M de Mônica…e Mãe…
– Debora Galizia do Viajando em Família:
– Karen Schubert Reimer das Aventuras da Ellerin Viajante
– Michely Lares das Viagens da Família Lares:
– Renata Luppi, do Mala Inquieta
– Patrícia Papp, do Coisas de Mãe
– Luciano, do Malas e Panelas
Adriana Pasello diz
oi Luísa! É isso aí. Para nós também é assim. A casa não é o local, mas sim quem está connosco. E se estamos em família, estamos sempre em casa, em qualquer lugar do mundo. Gostei da ideia do “ninho”… traz aconchego pensar assim! Já linkado no Diário de Viagem. bj
Claudia diz
Luísa, querida!
Perfeito! Essa tua frase é simplesmente perfeita! Lembro muito bem de como fizemos o ninho naquelas campervans alugadas na Nova Zelândia!
“Conseguimos fazer o ninho longe do lugar onde sempre moramos. Porque mais importante é voar, conhecer. Bater asas, e regressar ao ninho, para descansar. E a casa, o ninho, pode ser em qualquer parte do mundo. O que faz o ninho não é o local, é quem está connosco. E quando estamos em família, estamos sempre em casa.”
Não vou esquecer desta frase!
Obrigada por participares, o teu post ficou lindo! Que talento para escrever!
Beijo, Claudia @pequenoviajante