Foi umas das atividades mais lúdicas, mas também enriquecedoras, que pudemos experimentar: usar a técnica do batik para criar um sarong ao nosso gosto e estilo. Até a Pikitim, do alto dos seus cinco anos acabados de fazer, experimentou e gostou. Fizemo-lo em Bali, na pequena aldeia de Penestanan (junto a Ubud), num dos muitos ateliers que oferecem esta atividade aos turistas.
A primeira vez que contactamos diretamente com a arte do batik foi na cidade em que ele nasceu, Yogyakarta, também conhecida como cidade dos sultões. O batik é uma técnica milenar, surgida originalmente na Indonésia e que consiste em usar cera quente para desenhar nos tecidos os padrões a gosto; depois, os tecidos vão a tingir com cores variadas. A cera impede o motivo desenhado de fixar a cor, e o resultado final é surpreendente.
Ainda hoje são muito famosos os batik de Yogyakarta, e das suas fábricas (muito pouco industrializadas, entenda-se, já que as peças continuam a ser pintados à mão) saem quilómetros de tecidos para todo o mundo.
Sabia que quando propusesse à Pikitim fazer o seu próprio batik ela iria ficar entusiasmada: é sempre esse o resultado, quando a proposta envolve desenhos e pincéis. Desta vez teria a variável de ser em tecido, com o extra de se destinar a ser uma peça de vestuário que ela poderia usar as vezes que quisesse.
Poderia ser numa camisa, numa toalha de mesa, num vestido. Poder, podia. Mas, não era a mesma coisa. Para conseguirmos uma maior aproximação à cultura daquele país, nada como pintar um sarong, a peça de vestuário que homens e mulheres continuam a usar diariamente na Indonésia, e em muitos países do sudeste asiático. E até mesmo do mundo – só que com variantes no nome, como pareo nos países francófonos, canga no Brasil ou capulana em Moçambique.
Quando “estacionamos” durante umas semanas na aldeia de Penestanan, acreditei que era o momento adequado para tentar. Já tinha visto na cidade de Ubud muitas lojas a oferecer esses workshops aos turistas. Mas ali, à porta de casa, no meio da aldeia, tinha reparado nas cinco mulheres que diariamente estendia panos no alpendre e passavam horas e horas a pintá-los. Fui lá perguntar se também podiam ensinar uma criança a pintar. Responderam que sim. Perfeito.
O primeiro passo é escolher o motivo, e só muito depois as cores. Mas, no caso da Pikitim, antes de tudo isso teve de se decidir, ainda, pelo tamanho – teria de ser bem mais pequeno do que o habitual. A criança começou por ficar triste depois de perceber que não seria ela a desenhar no tecido branco que lhe estenderam no chão. Mas logo percebeu que a tarefa seria muito complicada para a sua exigência, por isso limitou-se a ver surgir os primeiros traços, a lápis, feitos por um rapaz adolescente. Começava ali a surgir algo parecido com a flor de lótus que ela escolheu para ilustrar o seu sarong.
E no dia seguinte, e depois do traço a lápis ter sido preenchido com cera, a Pikitim apresentou-se no atelier para pintar. O sarong estava esticado numa espécie de cavalete horizontal; a Pikitim subiu para um banquinho e começou a pintar. E é aqui que surge o fascínio e a terapia. A tinta é diluída em água, e muitas vezes basta encostar o pincel ao tecido para ver a cor a espalhar-se.
Primeiro, os vários tons de rosa. Depois, o núcleo central da flor. Por fim, “o céu”, que estava para ser azul, mas, por causa de tinta rosa derramada inadvertidamente, pediu uma solução diferente. “Que bonito, o roxo! Assim, ainda gosto mais”, disse ela
“Gosto muito de fazer isto, mãe. Podemos fazer isto todos os dias?”, perguntou a Pikitim, quando viu seu sarong roxo terminado, cerca de uma hora depois de começar. O processo terminou depressa demais para o seu entusiasmo.
Para além de ter sido uma tarde muito bem passada, a Pikitim passou a dar muito mais valor ao pedaço de tecido que, a partir dali, lhe enrolou o corpo quase todos os dias.
“O meu sarong é o mais lindo do mundo, não é?”, perguntou ela. Não há como desmentir.
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