Não conheço pessoalmente a Camile Franzoi. Começamos a trocar mensagens e e-mails por causa de um tema que nos apaixona e nos aproxima: o gosto de viajar, e a riqueza de partilhar essa experiência com os nossos filhos. Mais ao menos pela mesma altura em que a família de Pikitim se abalou para o mundo, Camile, arquiteta, também decidiu fazer um intervalo na vida profissional, e rumou com o marido e o filho para uma viagem de dez meses. O destino foi o sudeste asiático. Muitas mensagens trocadas depois, e uma vez que a família não tem blog, convidei-a para escrever este texto a contar a sua inspiradora experiência. Está escrito em português do Brasil, e decidi não editar. Porque todos nos compreendemos.
Sempre fomos um casal viajante, e naturalmente, depois que o Lucas nasceu, nos tornamos uma família viajante. Na sua primeira viagem ele tinha apenas 4 meses – e não parou mais! Ele pode não lembrar do que viu, mas sabemos que compartilhamos bons momentos juntos.
Aqui onde moro, no sul do Brasil, são pouquíssimas as pessoas que fazem aventuras deste tipo. Sabemos que normalmente é difícil chegar a grandes decisões na vida. Porém, este não foi o caso. De uma maneira natural, a ideia foi se formando: e se fizéssemos uma viagem longa? E se, numa mesma viagem, visitássemos várias partes do mundo? A vontade de ficarmos juntos, a super dimensionada correria do dia a dia e a paixão por conhecer outras culturas pesaram na balança. Além disso, em 10 meses, levaríamos na bagagem um bem muito precioso: o tempo!
A escolha da Tailândia foi automática. Já viajamos por muitos lugares e assim que respondemos à pergunta “vamos?”, a pergunta “para onde?” foi simples de responder. Engraçado pensar nisso agora, mas lembro que não nos questionamos por muito tempo. As pessoas me perguntam porque escolhemos a Tailândia, mas a verdade é que a escolha nos pareceu a mais natural do mundo. Há 4 anos atrás tínhamos visitado o país e nos encantado.
A região é extremamente kid friendly, sempre tem alguém disposto a fazer um agrado, brincar ou procurar a melhor maneira de acomodar os pequenos. Por um lado, o sudeste asiático pode não ter um preparo formal para receber bebês e crianças (como cadeirotes nos restaurantes, cinto de segurança nas vans, e berços nas pousadas), mas por outro é um lugar que ama crianças, e onde, espiritualmente falando, elas estão mais perto de Buda do que os adultos.
Partimos do princípio de que se existem bebés em todos os locais do mundo, então podemos levar nosso filho por tudo, sem grandes sustos. A alimentação nunca foi problema, Lucas é bastante curioso neste sentido. Em referência à Tailândia, apesar da comida ser bastante apimentada, as crianças por lá são respeitadas e em todos os lugares que fomos sempre havia alguém fazendo algum prato especial para ele.
Alugamos um flat em Bangkok para o primeiro mês. Foi uma maneira de conhecer a cidade e melhorar o planejamento da viagem. Este mês foi fundamental para uma rápida adaptação, tanto à Ásia quanto ao espírito viajante.
Durante os 10 meses conhecemos muito da Tailândia, parte do Laos e do Camboja e um pouco da Malásia, Singapura, até passar um último mês de “férias” em Bali (Indonésia). Cada lugar tem os seus sabores, cheiros e costumes e eu não tenho dúvidas em dizer que os nossos corações ficaram na Tailândia.
Em geral os templos e ruínas são excelentes parques de diversões naturais onde as crianças podem correr livres. Passeios que envolvam natureza sempre agradaram meu filho, e acredito que um dos pontos altos da viagem foi a visita aos templos de Angkor, no Camboja, onde ele pode explorar cada pedra dos templos. Os templos budistas também são uma festa para as crianças. Além do prédio principal, onde aprendemos a rezar e agradecer por tudo do bom que a vida nos dá, sempre existe um jardim, onde eles podem correr e brincar à vontade. Os rituais também são bons atrativos, como acender incensos para as oferendas, tocar os sinos gigantes, alimentar os peixes e colocar moedas em barulhentos recipientes.
As feiras fazem parte da vida diária e tem de tudo. Para encher os olhos, conhecer coisas novas e descobrir novos sabores. Um dos nossos passeios mais divertidos era visitar as feirinhas e mercados, que divertem pela variedade de objetos, cores e cheiros. Como são vendidas porções pequenas, podemos nos deliciar e provar muitas guloseimas.
Os meios de transporte também eram diversão garantida: andamos de tuktuk, na caçamba de caminhão, scooter, elefante, ATV, bicicleta, trem, caiaque…
Acredito que o maior presente que esta viagem trouxe foi a possibilidade de compartilhar com a minha família. Acompanhamos etapas do crescimento do nosso filho de perto. Rimos juntos, vimos coisas impressionantes construídas pelas mãos do homem e outras tantas feitas pela natureza. Nos conhecemos mais, tanto uns aos outros, como a nós mesmos. Em família, aprendemos sobre o budismo, sobre a cultura oriental, nos apaixonamos por uma nova gastronomia e aprendemos algumas palavras em tailandês.
Se levarmos o olhar curioso e sem preonceitos das crianças para as nossas viagens, com certeza vamos descobrir um mundo mais colorido e divertido. Acho que as crianças equilibram bem a balança quando viajamos com elas. Se por um lado elas conseguem absorver muita coisa numa velocidade incrível, por outro, às vezes só querem jogar pedras no rio no final do dia. E num tipo de viagem destas (longa) é importante termos tempo para sermos nós mesmos, e não apenas viajantes com sede de conhecer.
Na volta, a adaptação dos pequenos é mais fácil. Dois dias depois de voltarmos, meu filho já estava na escolhinha, brincando com os amigos, enquanto eu ainda me recuperava de um fuso horário de 11 horas! Como eu já escrevi em outros lugares, meu melhor conselho para quem está planejando algo semelhante é: vá.
Camile Sambaquy Franzoi, uma mãe viajante”
Flavia diz
Obrigada, Luisa!
Em janeiro partirei com meu marido e filhote de 1 ano e 11 meses para o roteiro Tailândia, Camboja, Laos, Vietnã e Cingapura. Muitos me chamaram de maluca, mas tenho certeza que será muito bom.
Você sabe me dizer se as farmácias vendem papinhas como as daqui? Será melhor levar apenas para os primeiros dias enquanto adaptamos nosso estômago?
Se puder conte também os lugares mais apropriados e imperdíveis para os pequenos.
Beijos!