Estivemos uma semana a viver numa casa sobre a água, a sentir o marulhar debaixo dos pés, a ouvir a maré cheia e a pressentir a maré vaza, numa casa sobre estacas em Koh Lanta, uma das muitas ilhas da Tailândia. E este foi um dos primeiros desenhos que a Pikitim quis fazer, desta feita não no seu caderninho de sempre – o Moleskine de capa preta – mas no bloco de folhas que acabara de receber, trazido pela fada dos dentes.
O primeiro dente caiu à Pikitim ainda ela não tinha cinco anos. Estávamos no primeiro mês de viagem. Aconteceu enquanto comia um pedaço de melancia, e aguardávamos o barco que nos levaria de Koh Jum para a ilha seguinte, Koh Lanta. Planeáramos ficar uma semana em Lanta Old Town, numa casa alugada para sentir o dia-a-dia daquela pequena população. Não é o melhor sítio da ilha para ir à praia (essas ficavam todas do outro lado) mas tínhamos entendido que seria o melhor sítio para viver uma experiência mais autêntica, e menos turística.
Acertamos em cheio. Passamos muitos horas no varandim da “casa na água”, e a Pikitim fez muitos desenhos sobre uma pequena mesa de madeira posicionada entre apetecíveis camas de rede. Foi o caso deste desenho, com que ela quis estrear a prenda que lhe trouxe a “fada dos dentes”. Ficou muito contente quando viu a casa, mas revelou desde cedo uma preocupação. Aliás, duas. A primeira, era o facto de não ter o dente para colocar debaixo da almofada (tinha-o engolido!). A segunda, era a dúvida se a fada dos dentes ia adivinhar onde é que ela ia dormir, já que andava a viajar e ia ficar “muitos dias fora de casa”.
Os pais tiveram preocupações semelhantes. Onde é que vamos arranjar qualquer coisa para a surpreender? Lanta Old Town é muito pequena, não tem supermercados, nem lojas por aí além. Mas, tal como em todos os sítios pequenos, qualquer mercearia é uma verdadeira loja de conveniência. E foi entre os pacotes de chá, e os shampoos em doses individuais (na Ásia é frequente encontrar detergentes e shampoos em unidoses, talvez porque uma grande parte da população não consiga ter dinheiro para investir em produtos que duram várias semanas) que lá encontramos uns caderninhos e uns lápis de cera.
Foi com esse material que a Pikitim escreveu mais esta página do seu diário.
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