Foi quando assistia a um anúncio na televisão que a Pikitim fez o seguinte comentário: “É verdade, mãe, que o Pai Natal dá a volta ao mundo só numa noite?”. Ainda é cedo para lhe destruir essa fantasia natalícia; essa, e outras, como aquela que diz que o Natal é sempre que um homem quer. Respondi-lhe que sim, que o Pai Natal é mágico, e tem um trenó puxado por renas ultra-velozes. E que é por isso que na noite de Natal os meninos de todo o mundo recebem presentes. A resposta da Pikitim foi igualmente veloz: “Nós não temos essas renas, e é por isso que vamos demorar um ano. Mas também vamos dar a volta ao mundo, não é mãe?” É, sim senhor. E ainda bem que não temos essas renas, atrevi-me a acrescentar eu. Para podermos viajar devagar. Conhecer, explorar.
O calendário diz que faltam pouco mais de duas semanas para a partida, e o momento é de concluir os preparativos finais. Para a Pikitim tudo parece bastante simples – e é assim mesmo que tem de ser. Quando eu explicava à médica otorrino que a operou há escassos meses que não estaríamos por cá em junho – altura em que pretendia voltar a ver como andavam as adenoides e as amígdalas da Pikitim – a reação da médica foi brincar, dizendo que era melhor ir connosco para garantir que as vias aéreas continuariam impecáveis. A Pikitim deu-lhe a solução: “É fácil, só tens de tirar o cartão do cidadão”.
Não é tão fácil quanto isso, mas também não é tão complicado quanto se julga. Estamos todos sintonizados neste grande projeto, que está longe de ser umas “férias de 12 meses” nos antípodas do planeta. Este é também um projeto profissional (somos jornalistas, e continuaremos a sê-lo em qualquer latitude) e sobretudo um projeto educacional. Por isso nos obrigou a planeamento, a ponderação, a muitas horas de pesquisas e a tomada de decisões mais ou menos complicadas. Não temos a veleidade, nem a intenção, de pretender levar tudo programado ao pormenor, mas procuramos as ferramentas que nos vão permitir aproveitar melhor o tempo e dar resposta a imprevistos que surjam.
Fizemos a ronda dos médicos, tratamos de todas as burocracias, procuramos possibilidades de alojamento que trouxessem a melhor relação qualidade-preço, pesquisamos museus, centros de ciência ou de preservação ambiental para introduzir na lista para nos ajudar a definir o percurso.
Alheia a tudo isto – tal como convém – as preocupações da Pikitim são bem mais prosaicas, mas irresistivelmente mais emocionantes. Está entusiasmada com a possibilidade de passar um mês numa casa com rodas (temos a intenção de alugar uma autocaravana na Nova Zelândia), e está ansiosa por viver por uns dias numa “casinha da árvore” (desde que experimentou a cabana no quintal da Tia Alice que imagina casinhas em qualquer sitio – a mais recorrente é imaginar que o patamar intermédio das escadas da avó Isabel é a casinha da árvore com que gosta de brincar com a prima Beatriz). E lembra que ainda não sabe nadar, mas que gostava de ver muitos peixinhos coloridos e de dar de comer a golfinhos e a tartarugas.
Na carta que escreveu ao Pai Natal teve a preocupação de fazer pedidos de coisas que caibam na mochila, que pudesse levar com ela. Mas de uma forma pouco convicta – também não resistiu a pedir a “Carlota Cambalhota” porque sabe que uma das boas amiguinhas da escola também a iria pedir. “Os brinquedos maiores podem ficar em casa, para eu brincar com eles no fim da viagem”, resolve, decidida.
O que ela já sabe é que o Pai Natal não pode vir carregado de presentes para um menino só. E apesar de ela já ter despejado prateleiras com livros seus para dar “a outros meninos que não os têm e que ainda não leram” [numa louvável iniciativa do Jardim-Escola em associação com a Cruz Vermelha], acreditamos que vai ser nesta viagem que ela vai perceber que o mais importante não é ter tudo, nem é sequer ter muito. Vai conhecer meninos com bem menos, vai viver em casas simples e modestas. E vai perceber que não é o luxo nem a abundância que fazem as crianças e os adultos mais felizes.
Sei que o que atualmente entusiasma é perceber que vai estar com os pais ao longo de todo um ano, a ver e a aprender coisas novas, e a fazer amigos (a facilidade com que ela faz amigos!!!) em qualquer canto do mundo. E sei do que ela vai sentir mais falta. Do contacto com os amiguinhos da escola, dos primos mais chegados, e dos avós. Da sua “vovó” Odete, companheira de tantas aventuras e brincadeiras. Neste deve e haver, vai surgir um equilíbrio saudável e profícuo. Disso também tenho a certeza.
E agora que os preparativos finais coincidem com as festas de natal e a presença de amigos e família, as emoções misturam-se e já se sente um irresistível formigueiro no fundo da barriga. As rabanadas e a aletria até vão cair melhor.
Bom natal para todos!
Eliane diz
Olá, acabei de conhecer o site por indicação de uma amiga e fiquei encantada com o projeto. Apesar de ter acabado de aportar por aqui, também já sinto o friozinho na barriga imaginando a aventura deliciosa que vem pela frente e a vontade de acompanhar cada descoberta de vocês.
Um lindo Natal e um Ano Novo incrível! (tem como não ser? 😉 )
Abraços,
Eliane
Luísa Pinto diz
Olá Eliane,
Bem vinda a bordo da mala da Pikitim! Este friozinho na barriga sabe mesmo bem. Acreditamos mesmo que vai ser um ano incrível e é bom saber que haverá tantos amigos a viajar connosco.
Um bom natal para todos vocês!
Abraços,
Luísa
calita diz
É um regalo ler-te neste registo. Fico à espera das crónicas de todas as aventuras que vão viver. Um bem haja à família Pitikim. E uma excelente viagem.
Luísa Pinto diz
Obrigada, Calita!
Sê muito bem vinda… estamos quase a embarcar!
Diogo Carneiro diz
Amigos:
Luísa e Filipe, agora por Lisboa, mas por certo também em Riba d’Ave, todos vamos espreitando e vibrando com esta grande aventura… que inveja tenho eu de tantas coisas maravilhosas que vão viver!
Beijinhos e feliz início… Se passarem por São Tomé, diz ao Filipe que ainda tenho alguns contactos de lá 😉
Diogo Carneiro
Jorge Alves diz
Contem comigo na logística ou noutro assunto que precisem.Minha “base” fica em Lisboa…bem que queria ir também convosco!Eheh!”Partam uma perna”…rsrsrs.Inté
Sérgio Lemos Figueiredo diz
Boa Viagem…..
J. Gonçalves diz
Tive hoje, dia 7 de Janeiro conhecimento pela televisão da vossa aventura. Invejo-vos por não ser eu a encetar tal viagem, mas por outro lado aqui deixo os meus votos para que tudo vos corra conforme o planeado e que tenham muita sorte nesta aventura. Sortudos por terem a oportunidade de poderem espalhar um pouco do nosso Portugal por esse mundo fora. Espero que vão dando notícias da vossa aventura
Ana Feio diz
Mais uma vez não fui a tempo da despedida… mas é com muito prazer que vos acompanharei por aqui.
Um beijinho muito grande para todos e aproveitem esta experiência única o melhor que puderem.
Sérgio Lopes diz
Ola.
Sei que aterraram bem em Singapore. Acompanho há anos o Alma de Viajante e tornei-me um torcedor do vosso projecto. Espero que a viagem seja, acima de tudo uma viagem na nossa terra. Afinal, esta é a nossa casa. Parabéns.
Cumprimentos a tod@s. Vou acompanhar os vossos passos, e, ao mesmo tempo, fazer da vossa viagem, também um pouco minha.
Força!
Sérgio