Já falamos sobre a nossa viagem à volta do mundo em vários palcos, e para vários públicos. Na feira do livro de Braga, nos Serões da Bonjóia, na reitoria da Universidade do Porto, e até num evento TedX, em Aveiro, que tinha como mote o tema “Dream big…then do it”. Mas hoje ao fim da tarde, confesso-vos, vamos falar da viagem da Pikitim para o mais especial dos públicos. Um público que esteve sempre presente, em todos os momentos da viagem : os amiguinhos da escola, de quem ela sentiu tanta falta.
Hoje vamos falar sobre viajar com crianças e partilhar a nossa experiência à volta do mundo com a incrível comunidade escolar do Jardim Escola João de Deus.
Eu medi as palavras quando a chamei de incrível. Não estou a exagerar. Desde logo, pela forma como o director da escola acolheu o nosso projecto. Escreveu-nos um texto – a que chamou “A educação dos nossos filhos”– onde referiu que no mundo perfeito, a escola perfeita incluiria no seu currículo a obrigatoriedade de viajar. “Seguramente “prepararíamos ” adultos mais responsáveis, mais tolerantes, mais compreensivos, mais sábios”, escreveu.
O último dia na escola, antes da viagem, foi um momento que nos tocou. Foi o dia em que a Pikitim saiu da escola com uma coroa na cabeça e uma carta cheia de beijinhos nas mãos. Uma carta que havia de ficar guardada sempre num lugar muito especial, entre as paginas do seu Diário. Quando o primeiro caderno ficou completo, migrou a carta para as páginas do segundo. Era um papel que ela precisava sempre de saber onde estava.
Ela despediu-se de uma educadora antes de partir. Houve correspondência trocada. Houve muitas tentativas de contato falhadas. Houve um momento de contato alto, e épico, que foi ter toda a turma a cantar-lhe os parabéns, via Skype.
Quando regressou, sabia que teria outra educadora à sua espera, à frente da mesma turma. Não era propriamente uma desconhecida, porque naquele Jardim de Infância todos os educadores convivem com todos os alunos. Notava-se que estava ansiosa por conhecê-la melhor, por vê-la a fazer a magia que o primo Vasco lhe disse que acontecia nas aulas, quando as letras do alfabeto apareciam onde menos se esperava.
Não me vou esquecer as primeiras palavras da Pikitim, quando, ansiosa pelo primeiro dia do ano lectivo (que para ela, aconteceu apenas a 19 de Outubro) se abraçou à nova educadora e lhe segredou “Finalmente!”. Só depois reparou, por entre os abraços e as pernas e os mimos e os gritinhos de todos os amiguinhos da turma – numa explosao de alegria e espontaneidade como só os miúdos conseguem – que havia um coração gigante afixado na parede. É o mesmo coração que hoje ocupa um lugar especial no seu quarto.
Esta é uma escola incrível, porque a Pikitim nunca deixou de pertencer àquele grupo de trabalho – e de amigos – apesar de estar distante fisicamente durante mais de dez meses.
Hoje, vamos a escola da Pikitim dizer aos seus amiguinhos que foram eles os principais responsáveis por ela ter um diário com desenhos tão bonitos. Porque ela não se queria esquecer de nada e queria partilhar tudo. Hoje vamos dizer aos pais dos amiguinhos da Pikitim, que viajar com crianças é uma das experiências mais enriquecedoras que podemos ter com os nossos filhos. Temos muito a mostrar-lhes. E temos muito a aprender.
Sim, definitivamente, hoje é um dia especial. Depois conto-vos como foi.
Miguel diz
Uma curiosidade de viajar com as crianças é apreciar os comportamentos opostos, dos familiares muito dedicados ou os familiares cujas as crianças estão completamente autónomas. As crianças apreciam a diversidade de actividades, os estímulos distintos internos à família, mas também os externos de outras pessoas, locais, paisagens, cores. Tudo é motivo de interesse e que lhes desperta a curiosidade. Uma simples formiga, pode fazer a diferença no meio de uma paisagem enorme.