Joana Batista tem dois filhos, quase adolescentes, que se habituaram a acompanhar os pais em todo o tipo de viagem – seja numa visita a uma livraria em Lisboa, numa dormida num hostel-barco em Berlim ou numa viagem de metro em Copenhaga. Quando fala sobre si, Joana recorda que sempre se habituou a planear e a marcar as férias porque não encontrava opções que a cativassem. “Acredito que viajar com crianças e adolescentes é ajudar a criar hábitos, é cimentar conhecimentos e enraizar valores, é criar personalidade, é dar a oportunidade de aprender experimentando, é conseguir adaptar-se às circunstâncias. É oferecer o que não pode mais ser retirado. É essencialmente um modo de vida. E isso não se esquece, faz parte de nós”, diz ela. Uma das últimas aventuras da Joana foi uma viagem de carro entre Lisboa e Estocolmo – o projeto Do Santo António ao Midsummer. Os filhos foram ter com ela de avião – experimentaram o serviço de Acompanhamento de Menores – para acompanhar a mãe no regresso, outra vez de carro, entre Estocolmo e Londres. Podem acompanhar as aventuras no blog Viajar em Família.
- Nome – Joana
- Idade – 37
- Profissão – Já estive envolvida em diversas áreas: publicidade, jornalismo, organização de eventos…mãe a tempo inteiro, não sei qual o nome para isso, mas sei que gosto de ser reconhecida pelas minhas capacidades e não por um título formal e estático.
- nº de filhos – 2
- idades – 11 e 13
- Destino de sonho – Gostava de conhecer a Islândia, a Austrália, alguns países da América Latina ou o Japão, mas o que gosto mais é essencialmente da ideia de partir. E gostava muito de partir sem data de regresso e sem destino. Talvez seja esse o meu verdadeiro sonho.
- Filme preferido – Não tenho.
- Livro de viagem preferido – Não consigo escolher um, por isso vou nomear o último de que gostei pela simplicidade e pela partilha entre pessoas – Endereço Desconhecido do Tiago Salazar.
- blog/site – Viajar em Familia
Quando te falam em viajar com crianças, qual é a primeira coisa que te vem à cabeça?
Lembro-me dos meus pais, que sempre fizeram questão de viajar com as filhas. Acho que foram eles que semearam esta vontade de conhecer e explorar o desconhecido que há em mim. E depois lembro-me dos meus filhos, porque para mim sempre foi natural viajar com eles e mostrar-lhes que não há só uma realidade, uma forma de ver as coisas. Nós representamos apenas uma pequena parte das imensas possibilidades todas que o mundo tem. E que temos o dever de respeitar os outros mas também o direito de ter a nossa perspectiva e opinião.
O que achas que é o melhor de viajar com os filhos?
É a partilha. É poder ver, experimentar, provar, aprender pela primeira vez todos juntos enquanto estamos fora de casa, enquanto estamos mais livres das rotinas diárias, mais atentos e disponíveis para eles e para tudo o que nos rodeia. É aproveitar a “desculpa” da viagem para fazer várias coisas ao mesmo tempo.
E o pior? Ou o mais difícil?
O pior diria que são as despesas pois quando crescem, especialmente depois dos 12 anos, já “não cabem em qualquer cantinho”. Também noto que cada vez é mais difícil entreterem-se nos diferentes tempos da viagem: quando é preciso esperar, percorrer quilómetros, procurar alojamento ou restaurante. Mas também sei que não é porque estamos em viagem, já que em casa acontece o mesmo, por isso é mesmo da faixa etária. Passageira, espero.
Qual foi a primeira viagem que fizeste com os teus filhos? Tinham que idades?
Das pequenas viagens não me lembro mas ambos fizeram a primeira viagem de avião por volta dos 5 meses de idade (quando a logística da comida ainda está facilitada). O mais velho a Amesterdão e o mais novo aos Açores.
As viagens são programadas com muita antecedência? Quais são as prioridades e as preocupações tidas em conta no planeamento?
Não tenho regra, já programei com muita e com pouca antecedência. Preocupo-me em alternar preferências pessoais (intercalar praia e cidade, por exemplo, para agradar a todos os membros da família) e em conhecer um pouco de tudo o que há para conhecer no local a visitar.
Já viveste algum susto, já houve algum contratempo em viagem?
O maior susto que tive foi num voo para Paris, em que um dos motores começou a arder. Estávamos sentados perto da asa por isso era muito fácil ver o fogo. Lembro-me de abraçar os miúdos e do silencio cortante. A tripulação desapareceu, ninguém falava.
Tínhamos acabado de deixar Lisboa, tivemos de voltar a aterrar e depois de algumas horas de espera, voltámos a levantar voo. Quando voltámos a aterrar em Lisboa informaram-nos que foi um pássaro que tinha entrado no motor.
Viajavas mais vezes antes de teres filhos? Com que frequência viajas agora?
Penso que a frequência não mudou muito. Normalmente todos os anos fazemos algumas pequenas viagens e outra maior.
O que acreditas que vai ficar mais a memória das crianças após uma viagem?
Que nos podemos sentir em casa onde quisermos. E que os desafios fazem parte da vida, são para ultrapassar e que há sempre uma solução, há sempre outra forma de ver ou fazer as coisas. E que cada decisão tem uma consequência.
E depois claro, as coisas engraçadas que vimos e que de vez em quando alguém se lembra, por exemplo das abelhas na comida em Berlim, das bicicletas no metro em Copenhaga, do pão nas mãos das pessoas em Paris.
Que dica ou conselhos podes partilhar com quem esteja a pensar em viajar com os filhos?
Em viagem é preciso conseguir poupar espaço na bagagem, para poder viajar leve, e é preciso ser prático (não levar roupas claras e escolher peças que combinem facilmente entre si, por exemplo). Levar apenas roupas e sapatos usados, simples e confortáveis, se não queremos passar o tempo todo a atar laços, a engomar roupa ou a ouvir que os sapatos estão a magoar os pés.
Pedir a opinião deles para algumas decisões, para também se sentirem envolvidos e interessados com a viagem. Fazer compromissos de cedências em que “hoje escolhes tu, amanhã escolho eu”.
E por fim, estar disponível para as perguntas, dúvidas e sugestões dos mais pequenos.
Qual é o vosso próximo destino?
Ainda não sei como vai ser no Verão, mas andamos a falar na Amazónia e em Buenos Aires há já algum tempo.
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