Luciana Misura é uma carioca que vive nos Estados Unidos da América desde 2002. O gosto por viajar vai-se sobrepondo aos muito talentos e vocações, de tal maneira que conseguiu convencer o marido a embarcar com ela na tentativa de “transformar essa paixão no nosso trabalho”. O casal Misura tem já dois filhos, mas eles não pararam de viajar. Pelo contrário. Até ao final do ano passado, a média dava cerca de dez viagens por ano! Sempre com as crianças. Vale mesmo a pena conhecer esta Família VagaMundos, que tem à cabeça uma mãe que não se inibe em dizer que tem vontade de conhecer o mundo todo.
Luciana Bordallo Misura
- Idade: 35 anos
- Profissão: Designer
- nº de filhos: 2
- Idades: 1 ano e 5 anos
- Destino de sonho: O Taiti está num patamar acima de todos os outros, só dele.
- Filme preferido: Impossível escolher! Mas desde que as crianças nasceram vejo poucos filmes…então a minha lista já anda bem desatualizada.
- Livro de viagem preferido: Amyr Klink – 100 dias entre céu e mar, que li quando adolescente e achei incrível. Um livro que não é de viagem mas me inspirou a viajar foi a biografia de Catarina, a Grande. Estou louca para ir a São Petersburgo desde que li.
- blog/site: http://luciana.misura.org e http://www.aprendizdeviajante.com
Quando te falam em viajar com crianças, qual é a primeira coisa que te vem à cabeça?
“Pra onde?” “Quando vamos?” Estou sempre pronta para viajar, sempre “dando um jeito” de encaixar uma viagem no nosso calendário.
O que achas que é o melhor de viajar com os filhos?
Mostrar o mundo para eles, apontar como existem as diferenças e também as coisas em comum entre as pessoas de diversas culturas. Nos divertirmos e descobrirmos juntos um novo lugar. Gosto de ver a carinha da minha filha quando a gente chega em um lugar que ela viu em um filme ou livro, quando ela experimenta uma comida nova e adora, quando o meu filho fica prestando atenção em tudo ao seu redor, mesmo ainda sendo tão pequeno. A cara dele no aquário gigante de Atlanta com os peixes passando ao redor, ou brincando nas instalações do Hakone Open Air Museum no Japão; ele nem sabia onde estava, mas brincou, curtiu, gostou.
E o pior? Ou o mais difícil?
O mais difícil é ter que carregar tudo o que temos que levar por viajarmos com crianças pequenas, principalmente as cadeirinhas de carro, carrinho, e às vezes carregar as crianças no canguru ou no colo junto; bolsa de fraldas, brinquedinhos, vai ser bom o dia que eles forem maiores e pudermos voltar a viajar de forma mais “leve”.
Qual foi a primeira viagem que fizeste com os teus filhos? Tinham que idades?
A primeira viagem da Julia ela tinha 4 meses, fomos de Seattle, WA para Detroit, MI, onde mora a família do meu marido. É um vôo de 4h30. A primeira viagem do Eric foi para o Brasil, de Austin, Texas ao Rio de Janeiro, onde mora a minha família, ele tinha 1 mês e meio de vida. São 14h de viagem, porque não tem vôo direto, e de Houston ao Rio são 10h30 de vôo.
As viagens são programadas com muita antecedência? Quais são as prioridades no planeamento?
Algumas sim, outras não. Este ano a Julia começou a escola “de verdade” e não marquei nada com muita antecedência porque estava vendo se seria possível viajar dentro do período escolar ou não. Agora nas férias de verão é que vamos colocar nossas viagens em dia. Tento marcar viagens que tenham o menor tempo de conexões possível, em lugares que tenham uma boa mistura de atividades para crianças e adultos, e preferimos não viajar para lugares muito frios durante o inverno (já basta visitar a família em Michigan na época do Natal!). Mas às vezes acontece, passamos o Ano Novo em Niagara Falls com muita neve e frio, a gente aproveita as oportunidades que aparecem. Também estou guardando destinos mais difíceis para quando as crianças forem mais velhas e as dificuldades de locomoção e saúde forem menores, como Machu Picchu, Índia, Tanzânia. Com eles pequenos vamos aproveitando para viajar por países que tem mas facilidades de infra-estrutura.
Já viveste algum susto, já houve algum contratempo em viagem?
Já tivemos que conhecer alguns hospitais infantis durante viagens, mas nada grave, apenas sustos mesmo. Quando fomos a Paris em 2011 a Julia amanheceu um dia vomitando sem parar, achei que teria que levá-la ao hospital, mas parece que “acabou” o que tinha no estômago, ela dormiu umas horas e acordou bem (mas chamamos um médico que veio vê-la para dar o veredito). Ano passado estávamos viajando de carro do Texas até a Flórida e o Eric teve uma febre de 40 graus durante a noite, corremos para o hospital infantil de Mobile, no Alabama, mas ele chegou já sem febre e não tinha nenhum outro sintoma, os médicos mandaram a gente seguir viagem e levá-lo a outro hospital se a febre voltasse, mas não voltou.
Viajavas mais vezes antes de teres filhos? Com que frequência viajas agora?
Não, a cada ano a gente viaja mais. Esse ano é que estamos mais parados por conta da escola, mas já vamos remediar esse problema. Estávamos viajando em média 10 vezes por ano até o final do ano passado (sempre com as crianças). Viajei grávida do Eric até as 34 semanas permitidas pelo médico. Acho que quanto mais você viaja, mais quer viajar.
O que acreditas que vai ficar mais a memória das crianças após uma viagem?
Acho que além das memórias de família, que vão ter mais quando forem mais velhos, fica uma sensação de que o mundo é um lugar interessante e que não precisamos ter medo de conhecer. E que por mais que as culturas e línguas sejam diferentes, as crianças brincam juntas em qualquer lugar, somos todos mais parecidos do que muitos povos gostam de admitir. Acredito que as crianças aprendem a lidar com diferenças culturais mesmo sem entender, tem outro parâmetro para o que elas consideram “estranho”; porque viajando por aí elas já viram que o mundo é assim mesmo, o diferente é OK, é aceitável.
Que dica ou conselhos podes partilhar com quem esteja a pensar em viajar com os filhos?
Muito planejamento, muita paciência, e slow travel. Estou planejando uma viagem e todos estão me dizendo que estou planejando “tempo demais”, que não tem “tanta coisa pra fazer” nessas cidades. Mas não quero ter que correr, quero que a gente passe por um parquinho cheio de crianças e que tenhamos tempo para parar e deixar nossos filhos brincarem, sem ficar preocupada que “tenho” que chegar a algum lugar. Ano passado fizemos isso quando fomos ao Japão, passamos 15 dias somente em Tóquio com as crianças, fazendo tudo com calma, e foi ótimo. Eles acordavam a hora que estavam prontos, tomavam café tranquilamente, minha filha assistia desenhos na TV em japonês mesmo sem entender nada ou então eles brincavam, saíamos para passear e a maioria dos jantares foram de volta ao apartamento (de uma amiga que mora lá). Foi a primeira viagem que a minha filha falou que não queria voltar para casa, que queria morar lá. E eu acho que foi porque ela sentiu um pouquinho da “vida” do lugar, não foi somente uma maratona turística.
Qual é o vosso próximo destino?
Vamos para Michigan em junho visitar a família do marido, depois, em Julho, paro o Rio de Janeiro visitar a minha família e por fim devemos ir a Europa em agosto. (A família Misura já passou por Frankfurt e está neste momento em Copenhaga, na Dinamarca).
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