Carla R. é “a mãe que capotou”. O porquê deste nome? “Tem a ver com 10 anos de emigração em França, 5 anos sem trabalhar fora de casa, dedicados na prática à educação dos meus filhos e em teoria à minha evolução espiritual. Toca em vontades revolucionárias de conciliar a minha carreira interrompida e a assumir plenamente a maternidade”, explica ela. Agora o blog chama.se Kaputt 2.0. Porque os filhos cresceram, “as noites tornaram-se mais misericordiosas, a escola chegou para aliviar o que podia” e Carla recomeçou à procura do seu lugar no mundo. Mãe a tempo inteiro (foi uma das fundadoras do movimento Revolucionar para Flexibilizar ), Carla está agora envolvida no planeamento de uma viagem de longa duração, que deverá realizar no próximo ano. O seu destino de sonho? É o mundo.
Carla R.
- Idade 38
- Profissão Não tenho nenhuma profissão. Neste momento não faço quase nada por obrigação, nem recebo nenhum salario. Tenho quase a certeza da veracidade desta resposta.
- nº de filhos 2
- idades quatro e meio e seis e meio
- Destino de sonho : O mundo. Se escolhesse sempre sozinha, escolheria viajar para paises que não conheço de todo, fico sempre decepcionada quando me encontro à frente a um monumento que ja conheço por fotografia ou por filmes. A estatua da liberdade é o que Nova Iorque tem de mais desinteressante aos meus olhos, ou o Taj Mahal na India.
- Filme preferido
- Livro de viagem preferido (sou péssima a fazer listas de preferências)
- blog/site Kaputt 2.0
Quando te falam em viajar com crianças, qual é a primeira coisa que te vem à cabeça?
Com crianças em geral não faço ideia. Existem crianças e crianças, como existem adultos e adultos. Conheço crianças que me fazem vir à cabeça verdadeiros pesadelos, apenas de pensar em as acompanhar à esquina mais próxima e outras que me fazem sonhar ir atrás delas até ao fim do mundo.
Se posso personalizar as crianças nos meus dois filhos, que já é bastante abrangente, porque têm personalidades muito diferentes, a primeira ideia que me vem à cabeça é a delicia que é ouvir discussões entre eles sobre o que estão a viver e no que é que estão a reparar.
Outra coisa ainda que me espanta, é a facilidade com que fazem amigos, mesmo quando não falam a mesma língua. Eu sei que isso vai acontecer, mas surpreende-me sempre.
O que achas que é o melhor de viajar com os filhos?
A relação que se transforma em se viver em conjunto experiências diferentes do normal rotineiro. Pode acontecer numa viagem longíqua ou num outro contexto, mesmo sem sair de casa. Mas é verdade que numa viagem, as experiências insólitas e marcantes tendem a multiplicar-se.
E o pior? Ou o mais difícil?
Não se poder parar quando nos apetece, mesmo se estivermos de rastos.
Qual foi a primeira viagem que fizeste com os teus filhos? Tinham que idades?
As primeiras viagens foram a Portugal (vivo em França) a minha filha apanhou o avião pela primeira vez aos 2 meses. E o meu filho aos 3 meses. Mas uma viagem a Portugal é sempre uma viagem diferente, um “vá para dentro, lá fora”.
Senão, a minha filha foi com 5 meses mergulhar em Guadeloupe e o meu filho com 4 meses adormecer no parque Gaudi em Barcelona.
As viagens são programadas com muita antecedência? Quais são as prioridades e as preocupações tidas em conta no planeamento?
Depende, já decidi ir umas horas antes ao Senegal, por exemplo. Actualmente estou a planear uma grande viagem que se vai realizar dentro de um ano.
Quando eram muito pequenos, com menos de um ano, preocupava-me que houvesse bons hospitais e médicos que falassem uma língua que eu dominasse. Agora vale tudo. Evito claro zonas de guerra e epidemias, não se vá pensar que sou uma louca.
Já viveste algum susto, já houve algum contratempo em viagem?
Muitos, sobretudo quando era mais nova, com a mania que sabia tudo e, felizmente, ainda sem filhos. Mas sobrevivi e aprendi.
Viajavas mais vezes antes de teres filhos? Com que frequência viajas agora?
Depende dos anos. Normalmente faço duas grandes viagens por ano, uma com os filhos e outra so com o meu namorado e depois pequenas escapadelas pela Europa ou mesmo pela aldeia ao lado.
O que acreditas que vai ficar mais a memória das crianças após uma viagem?
Quando lhes mostro fotos das viagens que fizémos quando eram mesmo muito pequenos, claro que não se lembram, mas acredito que tenham sentido que estávamos juntos e felizes, isso deve ficar marcado algures. Agora, lembram-se de vez em quando de episódios esporádicos, de terem andado em barcos com fundo de vidro, etc.
E gostam muito de rever as fotos e os vídeos que fizémos. Como conto-lhes as historias que vivemos em conjunto, a memória daquilo que se lembram mistura-se com o que talvez se tenham esquecido e que vão adquirido com o que lhes conto.
Sou profissional em passados contados, vim de Moçambique com pouco mais de um ano e “lembro-me” de muita coisa.
Que dica ou conselhos podes partilhar com quem esteja a pensar em viajar com os filhos?
Não sei se as minhas dicas podem ser validas para outras pessoas. Muito provavelmente muito do que faço com os meus filhos em viagem pode ser considerado como uma inconsciência para outros pais. Para outros um excesso de zelo. Afinal de contas, tal como cada um deve viver como acha melhor, também deve viajar de acordo com a forma em que esta no mundo.
Uma vez encontramos um casal felicíssimo, que estava com as suas duas filhas de férias e tinham decidido passar 9 dias inteiros na mesma praia, estavam descansados, com as filhas a salvo. A mim não me passa pela cabeça fazer férias assim, porque sou muito desassosegada, mas nunca aconselharei alguém a fazer o mesmo que para mim resulta. Somos todos diferentes e não acho que quem viaja mais, tem forçosamente a ensinar a alguém que nunca viajou.
Qual é o vosso próximo destino?
O próximo é Portugal no Verão, afinal somos emigrantes para alguma coisa.
Deixe um comentário