É certo que a Pikitim já tem viajado, e muito. Para além dos fins de semana em turismo rural ou de habitação em Portugal, já andou de avião. Muitas vezes. A primeira tinha apenas 11 meses e, desde então, todos os anos tem ido aos Açores ou a casa de familiares, em França, onde há sempre primos para brincar e braços abertos e calorosos para nos receber. É, por isso, tal como nós, e apesar da sua tenra idade, experiente em viagens.
Faltava-nos, no entanto, testar uma viagem a uma grande cidade. E sem outros rostos conhecidos. Não se irá cansar? Vamos conseguir visitar alguma coisa? Não será confusão a mais? – eram algumas das interrogações que fervilhavam nas nossas mentes.
Escolhemos passar um fim de semana prolongado em Roma, tendo como principal preocupação ficar alojados num apartamento, com facilidades para cozinhar e bem localizado, que nos permitisse fazer a pé todos os percursos pretendidos. Ficamos junto ao Teatro di Pompeo, a 100 metros do Campo di Fiori e a 300 da Piazza Navona. Mais central seria praticamente impossível e a aposta revelou-se, de facto, certeira. Foi quanto bastou para que tudo se desenrolasse suavemente.
Os dias começavam com pão fresco e taças de fruta compradas no Campo di Fiori, e só depois seguíamos aos passeios. Fontana de Trevi – “Olha o Tritão, o pai da Ariel!” -, Villa Borghese, Piazza di Spagna, o Panteão. Com múltiplas paragens para desenhar e escrever (a Pikitim andava com um caderno na mão, e pedia para se sentar e escrever, fingindo tirar notas – as crianças espelham-nos, tantas vezes…), e muitas cavalitas pelo meio.
Já o sabíamos, e mais uma vez comprovámos: a Pikitim é, por feitio, uma criança sociável. Gosta de meter conversa, conhecer gente, e até ouvir falar outras línguas. O “grazzie” começou a sair com toda a naturalidade, e ficou fascinada quando conseguiu dizer sozinha a frase, numa geladaria da cidade: “un gellatto di fragola, per favore”. Ficou boquiaberta quando entrou na Igreja de Gésu e viu os frescos no tecto – “O mãe, foi um senhor que pintou aquilo!? Também posso?!”. E sentou-se na Piazza de Trastevere durante mais de duas horas, juntando-se a um workshop de literatura infantil que, por coincidência, ali decorria, a fazer o seu próprio “livro de histórias”. Foi mais uma demonstração de que a barreira da língua, entre crianças, não existe.
Percebemos que a Pikitim adora os passeios, as saídas para a descoberta. Mas que facilmente se cansa de andar ou, pelo menos, aproveita o hipotético cansaço para pedir colo ou cavalitas. Comprovámos com naturalidade que não dá para ver tudo o que veríamos se estivéssemos sozinhos (o Coliseu e o Fórum Romano ficarão para outras núpcias). E, mais importante, registamos que a pequena Pikitim gosta – e precisa – de rotinas. Ao fim da tarde, pedia para ir para casa porque queria ir desenhar. Pintar os seus livros, contar as suas histórias, recuperar os seus brinquedos. E jantar. Era a hora do dia em que voltava a ter uma refeição dita “normal” para os seus hábitos, e podíamos cozinhar uma das sopas a que está habituada.
Mas, passado esse momento, queria, de novo, rua. Todas as noites pedia para ir à Piazza Navonna para ver os artistas de rua. E isso tem uma explicação. Quando, na primeira noite em Roma, chegou à Piazza Navona, deteve-se perante três jovens a fazer break-dance ao som de um grande rádio colocado no chão da praça. Estava fascinada, feliz e delirante, por ver tanta gente na rua e, em especial, aqueles jovens a dançar. Depois, atirou-se para o meio do chão, tentando imitá-los. E perguntou: “Ó mãe, porque é que na nossa cidade não é assim?”
Na nossa cidade também é assim, Pikitim. Há muito para ver, viver e apreciar. E para aprender. Onde quer que estejamos, aliás. A nossa casa não precisa de ser um lugar fixo – será sempre onde nós estivermos, todos juntos, em família. E essa foi a primeira grande lição do fim de semana prolongado na bela Roma.
Passámos o teste. Estamos em casa. O mundo espera por nós.
ac diz
Há dois anos, fizemos uma coisa semelhante: com o nosso filho de 5 anos a tiracolo, rumámos a São Paulo, onde comprámos um carro, e subimos a costa até Fortaleza. 100 dias, 7000 km, 30 pousadas, 3500 fotos, 2 blogs simultâneos, muita gente boa e muita vontade de repetir.
A dada altura, o curumim resumiu numa frase: “nunca vi uma mãe e um pai assim…”.
Estamos certos de que foi a melhor coisa que lhe podíamos ter dado para o currículo.
Boas viagens, Pikitim!
Cris diz
Olá! Em qual hotel ficaram? Bjinhos