Desde que nasceu, há quase cinco anos, que a pequena Pikitim se habituou, tal como a maioria das crianças, a ver os pais entrar e sair de casa constantemente. A mãe saía para o jornal, sinónimo de “ir para o trabalho”. O pai, esse, rumava muitas vezes ao aeroporto, ao ponto de ter chegado a pensar que o pai “trabalha nos aviões” e de se ter habituado a acenar aos aviões que passavam por cima da sua cabeça (e nós moramos perto do aeroporto!), acrescentando: “vai ali o papá”.
Mais tarde, começou mesmo a identificar os aparelhos pela cor, reconhecendo, sobretudo, os da TAP – “este avião vai para os Açores, mãe?” – e os da Easyjet – “aquele avião vai para a casa do Célian e da Joana”, referindo-se aos primos que moram nos Alpes franceses e que foi visitar, pela primeira vez, tinha apenas 11 meses de vida. Há muito que a Pikitim se habituou a conviver com aeroportos (vai todos os anos aos Açores visitar a prima Matilde), pelo que não está a estranhar o corrupio de mochilas e roupas espalhados pela casa. Tal como a ver os pais munidos de computadores portáteis ou máquinas fotográficas.
Recentemente, por altura de uma viagem a Roma, percebeu um pouco melhor a profissão de mãe e pai quando lhe explicámos que iríamos ficar num apartamento junto ao Campo de Fiori e fazer determinados passeios em parte porque alguém tinha escrito em revistas e jornais a esse respeito – e que, com essa ajuda, iríamos passar uns dias bem divertidos. Talvez por isso a Pikitim diga que ser jornalista “é engraçado”, mas os seus planos para “quando for grande” são outros. Diz que está indecisa entre ser professora, bailarina ou até escritora, “para poder inventar histórias como as que vêm nos livros”. A seu tempo se verá. É, pois, uma criança como todas as crianças, que brinca e salta e sonha enquanto aprofunda as vivências do seu dia-a-dia despreocupado.
Nesta volta ao mundo em família, não pretendemos de todo traçar um destino à pequena Pikitim, nem tampouco decidir o seu futuro. Terá, naturalmente, toda a liberdade do mundo para o fazer ao longo da vida. Mas queremos, assumidamente, fornecer-lhe ferramentas para o seu crescimento e proporcionar-lhe experiências que – esperamos nós – ajudem a fazer germinar do seu corpo de criança uma mulher culta, tolerante, solidária, responsável, perspicaz. Uma cidadã do mundo, sem medos nem fronteiras.
Queremos, como quaisquer progenitores, o melhor para a nossa filha – e este é o nosso caminho para lá chegar. Alargando-lhe os horizontes. Ultrapassando as duas dimensões que lhe dá o planisfério tantas vezes espalhado no chão da sala; indo além das três dimensões do globo almofadado pendurado no quarto, e no qual se entretém a identificar continentes e a posicionar animais selvagens e trajes típicos. Porque o mundo vai agora ter dimensão real e a Pikitim terá uma mais nítida percepção das distâncias e, sobretudo, uma maior compreensão da diversidade do planeta e dos seus povos, da importância do respeito pela preservação da Natureza e das singularidade de cada cultura.
É disso que trata o Diário da Pikitim, uma rubrica que poderá acompanhar nas páginas da FUGAS ao longo das próximas semanas. O projeto que aqui iniciamos resultará, afinal, na possibilidade de transformar uma longa viagem num ambicioso programa três-em-um, que abraça as vertentes lúdica, pedagógica e profissional. A ordem é casuística e a relevância é transversal. Passar tempo de qualidade em família (desta vez ninguém entra e sai, estaremos sempre “em casa” – com ela às costas -, já que estaremos sempre juntos); procurar destinos, organizações amigas do ambiente, culturas e tradições que valha a pena conhecer e divulgar; e, por fim, dar à Pikitim os tais ingredientes que ajudem no desenvolvimento da sua personalidade.
E não faltam desejos a povoar o seu imaginário infantil: quer ver cangurus (na Austrália), nadar com tartarugas e golfinhos, morar em cabaninhas no meio das árvores (na Costa Rica) e sobre as águas (na Tailândia), experimentar uma casa sobre rodas (uma autocaravana, na Nova Zelândia) e brincar, brincar, brincar. Da mesma forma que afirma não querer ir à Índia – porque acha que tem “medo dos índios” (numa deliciosa confusão entre indígenas e indianos) e perguntou-nos se era verdade que havia meninos noutros países que comiam com pauzinhos, como uma vez viu na televisão. “Como é que eu vou conseguir comer?”, indagou.
Veremos, na estrada. Como comer; como brincar; como lidar com o desconhecido; o que vai resultar do confronto entre o imaginário e o real. O percurso está traçado. Viajaremos maioritariamente em ambientes insulares, previsivelmente em locais como as ilhas do sul da Tailândia, a Malásia, a ilha Palawan nas Filipinas, as ilhas de Java, Bali e outras, na Indonésia, o sudoeste da Austrália, o Norte e Sul da Nova Zelândia, os territórios da Nova Caledónia, Vanuatu, Fiji, Samoa e Ilhas Cook, no Pacífico Sul, e ainda a costa oeste do Canadá e Estados Unidos da América e, eventualmente, uma incursão à Costa Rica e Panamá antes do regresso à Europa a partir de Miami.
Estão todos convidados a embarcar na mala da Pikitim; a ver o mundo com ela e pelos seus olhos plenos de brilho. Viajaremos devagar, para aproveitarmos tudo o que de bom só o tempo permite acontecer. E muito será, com certeza, até porque vontade e sonhos não nos faltam. Não é assim que “o mundo pula e avança”?
Paulo "Bixus" Jorge diz
Boas,
A ideia é encantadora, é um sonho que qualquer adulto gostaria de realizar e para a pequena Pikitim será para sempre uma experiência inesquecível!
Há que aproveitar enquanto a Pikitim não tem de ir para a escola!
Desejos de uma grande aventura sem muitas peripécias desagradáveis e que nunca vos falte nada!
Beijinhos e abraços,
PJ Bixus