Depois do arranque da viagem em Singapura, o nosso roteiro apontava para a Tailândia. Voltamos a um dos melhores aeroportos do mundo – tudo brilha, tudo funciona e, apesar de ser dos mais movimentados do planeta, não há filas nem confusões no aeroporto de Changi –, agora para um voo bem mais curto, com destino a Phuket, de onde fugimos imediatamente. A partir deste momento, saltitaremos para sul, de ilha em ilha, escolhendo uma mão cheia entre as muitas dezenas de ilhas que existem ao longa da costa banhada pelo mar de Andaman.
A primeira paragem na Tailândia foi uma pequena aldeia em Koh Yao Yai, uma dessas ilhas, onde quase não há resorts, muito menos se sente estarmos em pleno pico de verão. Yao Yai é um razoável destino de praia, mas acabou também por ser como que uma primeira incursão na natureza, o sítio onde a Pikitim se começou a familiarizar com os bichos, bichinhos e bicharocos, a ter macacos como vizinhos ou a ter no cantar dos pássaros o ruído dominante.
A Pikitim adora animais, mas detesta “bichos”. Tanto é capaz de andar atrás de gatos para os afagar como desata a fugir de cães, mesmo que sejam seus conhecidos. É capaz de dar um grito por causa de uma abelha lá longe, como também de dizer que uma barata de pernas para o ar “é uma tontinha fofinha” (mas vista à distância, claro). Tanto diz que gostava de matar moscas e formigas, como se revolta quando sabe que há quem apanhe borboletas só para lhe ficar com as asas. “Eu nunca farei isso, mãe. Não é justo para as borboletas…”
É, pois, repleto de contradições o relacionamento que a Pikitim vai tendo com os animais, sobretudo com os insectos. Se, em casa, chegou a ter numa caixa de sapatos um mão cheia de bichos da seda e ficava toda excitada quando um deles terminava um casulo, já não achou grande piada à gigantesca amoreira colocada à entrada praia de Loh Pa Ret, cujas folhas estavam praticamente todas comidas e de onde os “lagartinhos” caíam com relativa facilidade. Ter bichinhos parecidos com estes, dentro de caixas de sapato, para visitar quando é preciso, até tem a sua piada. Mas senti-los a passear nas nossas costas ou a cair demasiado perto do prato de fried rice (um dos restaurantes bons e baratos de Loh Pra Ret, o Talay, estava demasiado perto destas “lagartixas) já não tem piada nenhuma.
O contacto com a gastronomia tailandesa também se revelou positivo: a Pikitim reparou logo que na Tailândia já não se come arroz com pauzinhos, e o fried rice with chicken (que rapidamente se tornou no seu prato favorito) se come com um garfo e uma colher. “Aqui só não há facas como há em Portugal”, limitou-se a observar.
Outro aspecto da “vida” da Tailândia que ela adorou, desde o primeiro contacto, foi o momento do pequeno almoço. Não se atrevia no pequeno almoço tailandês – isto porque não passa sem o leite, sobretudo se for com chocolate, e apesar de comer muito bem arroz, logo pela manhã não há apetite para tal – mas não dispensava os sumos, muito menos os belos pratos de fruta com que nos presenteavam todas as manhãs. Os pratos de fruta que era trazidos pela Yamalia ao pequeno almoço tiveram, inclusive, direito a desenho exclusivo nas páginas do seu diário gráfico, a que regressa quase todos os dias. Gostou de experimentar a fruta do dragão, mas não ficou especialmente fã; já das líchias (que aqui têm uma casca como “um ouriço, mas que não pica”) gostou bem mais. Porém, foi das suas muito conhecidas e favoritas melancia e manga que comia avultadas quantidades.
Os dias em Koh Yao Yai passaram rápido, entre a praia de Loh Pra Ret e a casa nos Heimat Gardens. Apesar do quarto ter televisão, não pediu para a ligar uma única vez. A primeira prioridade era estar enfiada na água – e que convidativa era a temperatura da água naquela praia! O difícil era tirá-la de lá, até porque se divertia com a possibilidade de “ficar a flutuar na água, como os objectos”. Quando a praia já não era uma possibilidade, ou melhor, quando o banho de mar ainda não era uma possibilidade – porque era muito cedo, porque era muito tarde ou, então, porque tinha acabado de almoçar – a Pikitim gostava de “ficar em casa”, sobretudo na varanda, com vista para “uma floresta” e de onde sobressaia uma bananeira, com um grande cacho ainda verde.
Foi muitas vezes aí, num chão de tijoleira, que se entreteve a desenhar os animais que havia visto no zoo de Singapura para enviar aos amigos a escola. Assumiu essa missão como uma verdadeira empreitada. A tal ponto que, quando lhe dissemos que no dia seguinte partiríamos para outra ilha, avisou: “hoje não posso descansar. Tenho de fazer os animais todos que vi em Singapura para mandar aos meus amigos. Se amanhã vamos andar de barco, não vou ter tempo para fazer nada. Meninos, toca a ir para casa que eu tenho de trabalhar!”
E “trabalhou” a sério. Fez muitos desenhos: uma zebra, um elefante, uma cobra (e arrastava a folha no chão de tijoleira para ouvir a cobra a “fazer barulho”) e continuou a desenhar animais até inventar um: “o pinguim castanho a fazer músculos”. “Eu ia fazer um esquilo, mãe, mas enganei-me e fiz duas caudas. Então, transformei o pinguim num esquilo castanho”.
Por fim, desenhou dois pássaros. “O azul, que leva um coração com beijinhos para os meninos. E um cor de rosa, que leva beijinhos para as meninas”. Talvez já tenham chegado ao destino.
Ana Duarte diz
Ao ler estes relatos só posso sentir inveja, uma boa inveja, da pequena Pikitim. Ai, quem me dera a mim…
Desejo-vos continuação de boa viagem e continuem a desfrutar.
Papgena diz
🙂 os moços quando lhes dá para a ternura são muito fofos!!
Agora ler uma descrição dessas, quando aqui faz um frio de rachar é quase um exercício de masoquismo! 😛
Continuação de boa viagem!
sandra diz
Aqui está um frio quase de rachar!!!!
Não te preocupes Pikitim que eu também só gosto de “bichos” à distância, mas tão distante que se não os vir fico mais feliz 😉
Homónimo diz
Que bela foto! Os bichos, mesmo á distância, devem, por certo, ficar bem presentes na mente da Pikitim. Mas a temperatura do ar e da água nessas paragens são, sem dúvida para nós, nestes tempos de muito frio, uma apaziguadora miragem, perante o ” gelo ” que nos rodeia. Sim, é que lá para as bandas do Solar da Burra, estiveram uns animadores -7º!!! Ainda bem que sabemos tratar-nos!……. Abraços e bj á Pikitm