Tínhamos pensado em fazer uma visita ao Bird Park de Kuala Lumpur após termos lido referências sobre o número de aves que nele existem e pelo facto de andarem a voar “livremente” – naturalmente, redes enormes estão colocadas sobre o parque para impedir que as aves saiam do parque. Era apenas uma possibilidade, até que recebemos uma carta dos amigos da escola a documentar uma visita a um Parque Ornitológico.
Foi a melhor das prendas que a Pikitim poderia ter recebido na nossa chegada a Kuala Lumpur. Chegámos mais tarde do que o previsto, depois do avião em que viajávamos ter ficado retido mais de três horas no aeroporto de Manila por causa de problemas técnicos. E mal entramos na USD Guesthouse, onde iríamos passar a semana seguinte, o nosso simpático anfitrião tratou de chamar a Pikitim e perguntar-lhe se o envelope que trazia nas mãos seria para ela. Ela deu pulos de contente, quando percebeu que sim, aquela certa era para ela e tinha sido enviada pela escola: “lê, mãe, lê!”, pouco se importando se estávamos ou não ocupados com as burocracias do check-in.
Foi mesmo a primeira coisa que fizemos: ler-lhe a carta que a professora tinha enviado. E logo a ouvimos dar gritinhos de alegria ao reconhecer os amigos nas fotografias que acompanhavam a carta. Eles contavam que tinham feito um passeio a um parque ornitológico e mandavam muitas fotografias das aves que tinham encontrado – desde as mais conhecidas às mais estranhas. Entre elas estava a fotografia “do estranho casuar”. “É mesmo estranho. Não parece nada uma ave. Parece um animal terrestre”, limitou-se a comentar a Pikitim. “Também podemos ir a um parque ornitológico?”, perguntou pouco depois. “Claro que sim”. A visita ao Bird Park passou a estar na agenda para um dos nossos primeiros dias na cidade.
O Bird Park de Kuala Lumpur é conhecido como por ser o maior “walk-in aviary” de todo o mundo, tem mais três mil exemplares, sendo que 90 por cento dessas aves são originais da região. Há gaiolas e jaulas, é claro, sobretudo para reter as espécies mais encorpadas e/ou raras, mas a maneira como o parque está construído (inserido num dos bonitos parques públicos da capital malaia, os Lake Gardens) dá a ilusão de estarmos no habitat natural daquelas aves, tão à vontade e à solta elas andam.
Logo à entrada, uma imensidão de periquitos, “a namorar”. Depois pombos, águias, tucanos e…. foi logo aqui que começamos a encontrar aves “estranhas”. Parecia ser esse o principal objetivo da Pikitim. “Mãe, olha este tucano é que é mesmo estranho. Tira uma fotografia deste para eu mandar para a minha escola”, pediu entusiasmada. Estava a falar do tucano rinoceronte, e que é mesmo a imagem de marca do Bird Park de Kuala Lumpur. A Pikitim haveria de pedir fotografias de muitos animais, e nem se apercebeu, à partida, que a estranha “Cassaway” que vimos sentada, uma ave preta de grande porte e de crista vermelha era o casuar da mesmíssima família que os amiguinhos tinham visto em Portugal.
Este encontro foi a caminho do anfiteatro ao ar livre onde diariamente é feito um espetáculo com várias aves, entre elas aves de rapina, como as águias que simulam estar a caçar em pleno voo, ou papagaios que mostram saber fazer contas ou separar o lixo para reciclar.
Os papagaios, as araras e as catatuas foram as aves que mais tempo tiveram a companhia da Pikitim. O seu colorido irresistível e o facto de muitas deles andarem à solta e a “ameaçar” pousar-nos em cima do ombro ou da cabeça fez com que estivéssemos muito tempo junto delas. E a ameaça acabou por concretizar-se – não no ombro da Pikitim, que ela fica demasiado excitada e irrequieta, mas no do pai. “Não te mexas papi, não te mexas”. O facto de por ali andar no jardim uma pequena tartaruga também fez com que a Pikitim tivesse pouca vontade de sair daquela ala. “As tartarugas andam mesmo devagar em terra!”, comentava.
Já andávamos a passear pelo parque há mais de duas horas (é um sitio agradavelmente fresco, mas nada consegue afastar por muito tempo a elevada temperatura e humidade que existe na cidade de Kuala Lumpur) e a hora de almoço estava já ultrapassada há muito, mas ainda faltava visitar a parte das aves aquáticas. Havia sempre algo a chamar a atenção da Pikitim, um pássaro novo que atrasava ainda mais o regresso. E a Pikitim queria ver aquelas “aves de pernas altas”, como as das fotografias que os amigos da escola tinham mandado.
Dissemos ao estômago para se esquecer da comida e pedimos aos pavões que se andavam a mostrar à nossa frente para não nos distrair. Tínhamos como missão ir espreitar o flamingos. E ainda bem que fomos. O almoço só aconteceu quase às quatro da tarde, mas a calma e a tranquilidade com a Pikitim se sentou a contemplar os flamingos, numa dança que se desenrolava a menos de dois passos, valeu bem a pena.
A primeira coisa que quis fazer quando chegou a casa foi, como é bom de adivinhar, ditar a carta de resposta para enviar aos amigos. E só então se apercebeu que a cassaway e o casuar eram a mesmíssima ave. “Não reconheci. Têm as cores tão diferentes!”, explicava. E insistiu: “Este casuar é como as avestruzes. Não parecem nada aves. Mas as que eu mais gostei foram as que estavam no lago”, sentenciou. Tínhamos reparado nisso: quando ela se sentou e se sentiu como uma princesa, a olhar não para o lago dos cisnes, mas para o lago dos flamingos.
Marta diz
Boa tarde,
Tenho acompanhado a vossa viagem e fiquei com muita vontade de conhecer a Malásia onde espero também ir com a minha pituchinha de 10 meses quando ela for um pouco mais velha. Por enquanto vou viajando com as vossas descrições.
Obrigada e cont. de boa viagem.