Ajudar a encontrar o caminho para a praia, ajudar o caracol a chegar à folha de alface, qual é única maneira de o Noddy conseguir chegar ao pote de moedas de ouro que está no final do arco-íris… Em muitos livros de histórias e em quase todos os livros de atividades não faltam os labirintos que ajudam as crianças a estimular a sua concentração e raciocínio.
A Pikitim adora fazê-los e, por isso, reagiu com entusiasmo à notícia de que iríamos tentar resolver um desses labirintos, não em papel, mas em tamanho real, de tal forma que poderíamos ir de mãos dadas, os três, tentar encontrar uma saída.
O que estávamos a propor à petiza era tentar resolver o “Great Maze”, um dos desafios do afamado Puzzling World de Wanaka, uma simpatiquíssima cidade da ilha sul da Nova Zelândia. Um casal de canadianos a quem tínhamos dado boleia a caminho de Te Anau havia avisado que o labirinto era difícil, e que eles tinham desistido passado meia hora. Havia, por isso, que tentar refrear os ânimos da criança e avisar a Pikitim que o desafio existia, era grande, e que poderíamos não conseguir.
A Pikitim não se deixou assustar, e não descansou enquanto não se viu entaipada entre as divisórias de madeira do labirinto. Eram mais de 1.500 metros de passagens, condensados numa espécie de retângulo, com uma torre colorida em cada um dos quatro cantos. A verdade é que nós não desistimos (mesmo depois de ter passado a meia hora de tolerância que costuma dar lugar à impaciência) e 55 minutos passados tínhamos o objetivo de subir às quatro torres alcançado e posteriormente voltar ao ponto de entrada.
Conseguimos a torre vermelha, depois a azul, depois a verde e finalmente a amarela (aquela que parecia mais fácil de conquistar à primeira vista foi a que mais demoramos a encontrar). Por sugestão da Pikitim, que nunca quis desistir – apesar da chuva miudinha que mais de molhar tolos parecia que molhava os ossos -, nós trabalhávamos em equipa. Nunca nos afastávamos muito, apesar de todos procurarmos explorar um caminho, mas ninguém avançava sem levar consigo toda a equipa.
Terminamos o labirinto molhados e felizes, prontos para entrar no edifício principal do Puzzling World, onde nos aguardavam muitas ilusões e surpresas. Até na casa de banho éramos surpreendidos: “a casa de banho dos romanos era assim?”, perguntou a Pikitim, depois de se enfiar num dos buracos que parecia uma latrina.
Dependendo do tempo que quisermos passar naquele espaço, sobretudo no “puzzle café”, há varias mesas com desafios que ocupariam bastas horas (ou dias) a resolver, como o jogo da Torre de Wanaka, o mais conhecido Tamgram e outros quebra-cabeças. Mas os desafios mais intrigantes ainda estavam para vir.
Numa das salas do Puzzling World, criou-se a ilusão de haver água a “cair” de baixo para cima, ou que uma bola de bilhar que sobe a mesa, em vez de descer. “Your comprehension of true horizontal will go crazy”, avisavam ao entrar na sala. E foi mesmo: enquanto o nosso equilíbrio era testado até ao limite (as ilusões eram conseguidas pelo chão inclinado), a Pikitim dava gargalhadas com as nossas frases: “A descer, pai? É claro que esta cadeira está a subir, tu não vês?”, dizia ela, enquanto carregava no botão que soltava uma cadeira que parecia desafiar a gravidade.
Numa outra sala, com o chão quadriculado e portas de diferentes tamanhos, descobrimos como Peter Jackson conseguiu gigantes e anões para a trilogia do Senhor dos Anéis. Mas um das salas que mais nos impressionou foi a sala dos rostos onde o talento reconhecido a Leonardo da Vinci – por ter pintado uma Mona Lisa de sorriso enigmático e cujo olhar persegue quem a contempla – é aqui testado até à exaustão. Ali, máscaras em relevo com 168 rostos de gente conhecida estão espalhadas pelas paredes de uma sala, cujos olhares vão seguindo todos os nossos passos. Qualquer que seja o ponto da sala em que nos encontrarmos, centenas de olhos seguem-nos continuamente. Uma sensação estranha.
Saímos do Puzzling World passadas horas, e já a chuva tinha dado tréguas. Acabamos por não resistir a experimentar as poses que sempre evitamos fazer (por exemplo, na Torre de Pisa, em Itália). Mas esta é uma viagem com crianças. Com uma inclinação de seis graus, não há quem não tente tirar uma foto fingindo segurar uma torre existente à entrada do Puzzling World e que é o seu símbolo. Brincar com a realidade tornou-se irresistível, e a Pikitim simplesmente adorou fazê-lo: carregar uma torre às costas, ou levantá-la com a ponta dos dedos. A partir daí, o Puzzling World passou a ter outro nome, batizado pela Pikitim: passamos o dia “na casa da magia”. E que bem que soube.
Site oficial do Puzzling World: www.puzzlingworld.co.nz.
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