Trondheim com crianças: as dicas de Alice Pinto

Conheci a Alice Pinto nos nossos tempos de estudantes da Universidade do Minho. Ela, estudante de engenheira, tinha aulas em Guimarães. Eu, estudante de Comunicação Social, tinha aulas em Braga. Os amigos em comum e alguns projetos associativos juntaram-nos muitas vezes. Agora, a Alice (ou a Bi, como eu a conhecia) está a viver em Trondheim, uma das mais importantes cidades da Noruega.

Neste post conta-nos como foi fácil a adaptação para os seus filhos e diz que o melhor de viver na Noruega é a sensação de segurança, que lhe permite deixar os filhos à solta na rua, sem grandes preocupações. Ou melhor dizendo, permite-lhe dar-lhes uma infância parecida com a que ela viveu. As fotos neste post são da página oficial do turismo.

Aqui ficam as dicas de Alice Pinto para uma viagem a Trondheim com crianças.

O que é para ti o melhor de viver em Trondheim com os teus filhos?

A segurança! As crianças aqui brincam na rua como eu brincava quando era pequena. A quantidade e qualidade de espaços ao ar livre para os mais pequenos (e maiores) é imensa e sinto-me verdadeiramente descansada quando andam na rua sozinhos (ok, eu sei que já são grandinhos ;-)). Isso fez com que me tornasse menos mãe galinha e eles tiveram espaço para aprender a ser bastante mais autónomos.

Há quanto tempo vivem na Noruega? Houve alguma dificuldade de adaptação com as crianças?

Eu cheguei um mês e meio antes do resto da família, em Setembro de 2011, o que significa cerca de 2 anos e meio. Quanto à adaptação, acho que foi mais difícil para os pais do que para os filhos. Claro que nem tudo foram rosas, e o regresso após férias em Portugal era, e ainda continua a ser, “difícil”, não pelo que têm a espera cá, mas mais pelo que deixam em “casa”… No geral, acho que estão perfeitamente adaptados, já falam a língua fluentemente (ao contrário dos pais), e estou em crer que seria mais difícil voltarem a adaptar-se a Portugal do que foi adaptarem-se aqui.

Qual é a vossa zona da cidade preferida? E porquê?

Não é fácil decidir, mas tendo que escolher uma zona diria Ila. O ambiente criado pelas casinhas de madeira coloridas tornam a zona encantadora. O jardim com parque infantil e campo de futebol para os mais pequenos, permite aos mais pais gozar calmamente um cafezinho no “Ila Brainnstasjon”, um lugar ecléctico, despretensioso, onde se pode ouvir musica ao vivo, jogar jogos de tabuleiro, e onde as paredes têm sempre trabalhos artísticos expostos, enquanto os pequenos brincam no parque. O passeio desde o parque de Ila até ao centro, pela margem do rio, é outra boa razão para ir até lá.

E a melhor zona para, quem for de visita, procurar uma guesthouse ou um hotel?

Hotéis e afins, existem quase exclusivamente no centro. Quando se fala do centro da Cidade em Trondheim, estamos a falar duma área equivalente à Baixa de Lisboa ou do Porto. Já agora, Trondheim é uma cidade com uma população equivalente ao Concelho de Braga e com uma área 2 vezes maior, pelo que existe muito espaço disponível.

Procurar hotéis em Trondheim

Escolhe, por nós, um café, um museu e um parque ou jardim por onde valha a pena passar.

A sugestão para café é o Annas Kafé, onde se comem os melhores bolos á fatia da cidade. Parece que a decoração foi herdada de casa da avó o que lhe dá um ar muito particular. Além disso fica numa das ruas mais bonitas da cidade, Nedre Bakklandet. Seguindo por essa rua histórica de Trondheim chegam à Gamle Bybro (ponte velha da cidade), que vale a pena ser visitada, quer pela ponte em si, quer pela vista que oferece em ambas as direcções. Depois de gozar a vista, completem a travessia e sigam para a minha sugestão de museu, que com miúdos, tem que ser o Vitensenteret, o centro de ciência cá do burgo. Mais abaixo falo dele em mais pormenor. Daí sigam para a catedral Nidaros , e aproveitem o parque que fica entre a catedral e o rio.

Costumam almoçar ou jantar fora? quais são os restaurantes mais child-friendly da cidade?

Jantar fora nesta cidade, e no resto da Noruega, pode ser uma experiência extremamente frustrante. Os preços são astronómicos e na maior parte das vezes a qualidade não acompanha o tamanho da conta. Jantar fora está por isto mais ou menos restringido a fast food. Quanto a crianças, a Noruega inteira é child-friendly (às vezes até um bocadinho demais). De qualquer forma existem três sítios que recomendamos, e onde a sensação de assalto não é tão evidente.

• 1. Matute – Restaurante Chileno com comida deliciosa e um preço bastante aceitável (para a Noruega!).
• 2. Burgy – Fast food, mas uma versão menos artificial e mais saborosa de hamburgueria. Ligeiramente mais caro que os Macdonald´s ou Burger King, mas vale bem a diferença
• 3. Sushibar – Talvez o género de restaurante onde a diferença de preço para Portugal é menor. E o melhor sushi que comi até hoje.

Alguma coisa sobre os transportes públicos que devamos saber?

De e para o centro da cidade a rede funciona lindamente. Viajar entre zonas periféricas pode ser demorado e com menos alternativas. Viajar com carrinhos de bebé, cadeiras de rodas, cães, bicicletas, skis, sacos de viagem e afins, é comum e os autocarros estão preparados para isso. Recomendo uma consulta ao site em www.atb.no, para ficarem a saber as alternativas de bilhetes que melhor se adequam ao tempo e tipo de utilização pretendida. A empresa tem duas app´s para smartphone que funcionam lindamente: uma para compra de bilhetes e outra para calcular percursos e horários.

E tens algum truque para tornar esta passagem por Trondheim um pouquinho mais barata, isto é, alguma dica para poupar dinheiro?

Comprar os bilhetes de autocarro antecipadamente é muito mais barato, mesmo os bilhetes de viagem única. Como comer fora é extremamente caro, a melhor maneira de não rebentar com o orçamento será ficar num hotel em que os quartos tenham cozinha. Uma alternativa será o Confort Park Hotel. A diferença no preço do hotel é facilmente compensada pelo que se poupa em comer fora. Alguns hotéis permitem que se leve do menu de pequeno almoço um lanchinho para mais tarde (o que por cá se chama um “matpakke”). Evitar o álcool também traz uma poupança significativa ;-).

Imagina que só temos dois dias. Consegues desenhar um pequeno roteiro que nos indique como devemos aplicar o nosso curto tempo?

Como o tempo é pouco, sugiro um primeiro dia intenso. Pela manhã sigam ate ao Sverresborg Trøndelag Folkemuseum (o autocarro numero 18, direcção Havstein, para mesmo à porta). E um museu ao ar livre com edifícios típicos Noruegueses. Alem disso, entre 15 de Junho e 15 de Agosto, têm animação com actores em trajes tradicionais recreando cenas tradicionais, a quinta tem animais e há concertos. A próxima paragem é o parque de Ila. Desçam do museu a pé e apreciem a paisagem do fiorde e da cidade. Chegados a Ila, comam uma waffle e tomem um café no Ila Brainnstasjon, enquanto os miúdos brincam no parque. Daì sigam a pé, pela margem do rio até ao Studentersamfundet (edifício da associação de estudantes). E um edifício redondo e vermelho, por isso não terão grandes duvidas que estão no sítio certo. Pelo caminho apreciem a vista da Catedral e da área circundante. Em frente ao Studentersamfundet, do outro lado da rua, fica a paragem do autocarro para o próximo destino. Entrem no autocarro número 60, direcção Brannstasjon Ø., ate à paragem Otto Nielsens Veg. Da paragem conseguem ver a Tyholtarnet (torre de Tyholt). E uma torre de telecomunicação com 120 metros de altura e no cimo consegue ter-se a melhor vista de Trondheim. Existe no local um restaurante pizzaria cujo chão roda uma volta completa por hora. Aproveitem o buffet de pizza e salada por 105 NOK (59 nok até 10 anos) todos os dias até às 18 horas. Depois de comerem, desçam e na mesma paragem onde saíram, apanhem o autocarro numero 22, direcção Vestlia endeholdeplass, até Solsiden. Esta é a zona dos cafés, restaurantes e bares de Trondheim e costuma ter bastante gente. Aproveitem para passar pela zona, enquanto se dirigem a pé até Pirbadet, o complexo de piscinas. Fica na margem do fiorde, e as paredes envidraçadas permitem usufruir da paisagem enquanto dão um mergulho ou descem nos escorregas (ver mapa).

Sugiro que no segundo dia façam o percurso descrito acima, mas começando com uma visita à Catedral. Daí sigam em direcção ao rio e aproveitem o parque na margem. Caminhem até à Gamle Bybro,mas não atravessem ainda: andem mais um pouco até ao Vitensenteret e façam uma visita. Voltem à ponte velha e atravessem para a outra margem, levantem uma bicicleta ( estão online todas as informações e mapa das estações) e passeiem pelo bairro histórico de Baklandet. Se estiverem com crianças pequenas, a bicicleta não será opção mas façam o passeio a pé. Depois de uma fatia de bolo no Annas Kafé, subam até à fortaleza (Kristiansten festning). Situada no topo duma colina e onde podem apreciar umavista fabulosa. Daí, desçam até Bakkegata e apanhem o autocarro número 6 e sigam até Rotvoll. Caminhem em direcção ao mar e terminem o dia com um piquenique na praia junto ao fiorde. (Ver mapa)

Qual é a tua actividade cultural preferida na cidade? E a dos teus filhos?

Uma visita ao “Vitensenteret” é sempre um sucesso para todos. É um centro de ciência, cheio de experiências interactivas que agradam imenso aos mais novos, e não só. Não tem um aspecto muito moderno, mas a verdade é que as experiências estão muito bem pensadas e os miúdos passam ali horas a aprender enquanto brincam. Os mais velhos cá de casa, sendo fãs de ciência, também ali passam um bom bocado. Como quase todos por estas bandas, é um lugar seguro e os miúdos podem andar, correr e brincar à vontade, deixando os pais à vontade para fazer a sua própria visita.

A terminar, peço-te uma dica final para tornar esta visita a Trondheim ainda mais inesquecível.

Mesmo no Verão, que por aqui dura algumas duas semanas, quem vier conte com chuva. Mas que isso não seja impedimento de fazer os percursos. Os Noruegueses têm uma expressão, que levam bastante à letra: “det er ikke dårlig vaer bare dårlig klær”, que é como quem diz: não existe mau tempo, só mau vestuário.