Uma das melhores coisas que conseguimos quando andamos a viajar é a oportunidade de conhecer novas culturas e tradições. E quanto mais longínquas e mais exóticas forem, mais interessantes parecem ser, pela diversidade que nos trazem, pelas novidades de que se revestem.
Se daí desse lado estiver muita gente parecida com a malta aqui de casa, neste momento estarão a pensar na viagem que gostaria de fazer a seguir. É assim uma espécie de vírus latente, que está sempre ali, e que se manifesta à mínima oportunidade. E, porventura, tal como nós, também não terão nenhuma dessas viagens de sonho agendadas para as próximas semanas ou meses. Há, porém, algumas actividades que nos permitem “aguentar” essa espera. São, de alguma maneira, formas de expôr os nossos filhos a essas diferentes culturas e tradições. Isto ao mesmo tempo que garantimos serões bem divertidos. É uma espécie de viajar sem sair de casa – ou, pelo menos, sem sair da cidade ou do país. Deixo aqui três sugestões.
1- Inscrever a família em programas como o Couchsurfing
Cada família oferece o que tem – um quarto, um sofá, um canto da sala para receber um colchão; ou oferece, apenas, um pouco do seu tempo tempo para tomar um café com os viajantes que estão de visita à nossa cidade. Em troca não recebe dinheiro – é completamente contra o espírito desta redes tentar ganhar dinheiro à custa delas – mas recebe experiências e, porventura, ganha, até, novos amigos. Nós fazemos parte destas redes há já muito tempo – muito antes de nascer a Pikitim. Primeiro, do Hospitality Club, e depois passamos para o Couchsurfing, melhor estruturado e com maior oferta.
Lembro-me que uma das melhores experiências que tive nestas redes foi em Wroclaw, na Polónia, onde ficamos alojados em casa de um casal com dois filhos. Ainda eu estava muito longe de pensar em família – e soube-me tão bem estar com aquela. Os miúdos, habituados ao “entra e sai” de estranhos, logo nos bombardearam com perguntas (começavam a praticar o inglês) e com genuína curiosidade. Foram bonitos momentos de partilha.
Durante a nossa volta ao mundo em família tentamos usar este sistema muitas vezes – mas nem sempre dava para compatibilizar o nosso percurso com a disponibilidade dos anfitriões. Mesmo assim, tivemos experiências fantásticas, como os primeiros quatro dias que passamos na cidade de Perth quando ficamos em casa da Michelle. Foi uma emoção para a Pikitim, ficar na casa de um menino que tinha uma piscina e dois cães. Não foi só pela vertente económica – e pelo que significou em termos de poupança ficar quatro dias fora dos caríssimos hotéis da Austrália Ocidental – que esta experiência valeu a pena. Valeu a pena também pelo contacto com as rotinas dos meninos do outro lado do mundo. O pai da Pikitim já explicou muito bem porque é que fazer Couchsurfing é muito mais do que poupar dinheiro em hotéis . E no site do Couchsurfing também há uma página específica de “family tips” onde poderão dissipar dúvidas e atiçar curiosidades. Se ainda ficarem com algumas, deixem-nas ficar nos comentários que tentarei dar-lhes resposta.
2 – Jantares temáticos
Pode ser uma boa ideia instituir uma rotina de, mensalmente, levar os nossos filhos a viajar até um país diferente, organizando jantares que tenham como tema um país destino. Creio que é preciso mais vontade do que talento – e digo isto por experiência própria, que o talento na cozinha, cá em casa, mora mais nas mãos do pai e menos nas minhas.
O ideia não é ir ao take-away mais próximo e pôr a mesa lá em casa para um grupo de amigos. É mais empolgante – e aprende-se muito mais – se formos nós a tratar de tudo. Primeiro, devemos envolver os nossos filhos na escolha do destino; depois tratamos todos juntos da pesquisa, da lista de compras e dos preparativos para a refeição. Giro, giro será ainda convidar outras famílias amigas para participar da refeição. Há grupos que se dedicam a pensar e a organizar estas refeições isto nas redes sociais – como já contei no post “Volta ao mundo em 12 pratos”. Mas não é preciso estar inserido em grupo nenhum. Podemos ser nos a decidir que este mês vamos ao Brasil, para matar saudades do calar, e para isso só temos de preparar uma boa picanha e um tacho de feijão com arroz. No outro mês, podemos ir até ao México, e preparamos umas tortillas ou uns tacos. E por aí diante, fazendo suceder o sushi (japão), o arroz chao-chao (China), o masala dosa (Índia), a pizza ou a Iasagna (Itália), o fondue de queijo (França), o kebab (Irão), o couscous e a tagine (Marrocos), o falafel (Israel), o green curry (Tailândia)… em algumas receitas terão de haver adaptações, e “roubar” aos chillis e aos pimentos. Mas vale a pena experimentar.
Enquanto preparamos a refeição podemos ir contando algumas histórias e tradições referentes ao país em causa, e a internet, sempre a internet, pode ajudar-nos a encontrar a banda sonora adequada. Bom apetite, e boa viagem!
3 -Participar nas actividade dos museus
Há museus específicos que nos ajudam a viajar. Podemos ir até ao Egipto ou à China nas colecções da Fundação Gulbenkian. Ou aproveitar as propostas que nos conduzem até ás tradições e culturas dos países do sol nascente com as actividades do Museu do Oriente – fique atento ao “Sopra-me um conto” , que decorre às sextas feiras, ao fim do dia, ou conhecer, aos sábados de manhã, as histórias do Ramayana, um poema épico hindu.
Estas são as minhas sugestões. Gostava de receber algumas vossas.
Inês Sequeira diz
Cá por casa começámos com os jantares de outros países há poucas semanas. Fazemos um quase todos os sábados e apesar de dar algum trabalho, vale mesmo a pena. Já aprendemos a fazer tacos e churros por causa do México (traduzindo receitas de um site espanhol), fizemos espetadas de vitela a propósito da Turquia, já andámos pela Índia e Alemanha (apfelstrudel).. E falamos sempre um pouco nas línguas, música, religião… Tem sido uma lufada de ar fresco cá por casa, para nós, a Filipa de 11 anos e a Carolina de 2,5 meses que esperamos que um dia tb faça parte destas refeições. Outra coisa boa para aprendermos novas culturas é o postcrossing, por exemplo, com troca de postais. É muito interessante :).
Inês
Joana diz
Achei a idéia genial principalmente para aqueles, assim como eu, que sonham em conhecer várias partes do mundo mas ainda não tiveram oportunidade mas, acima de tudo, querem abrir os horizontes dos filhos. Vou começar a praticar imediatamente para que os meus pequenos de 9 e 3 anos possam desfrutar dessa diversão e conhecimento!
sandra diz
🙂 Vou guardar para aplicações futuras. O meu marido não vai na ideia do Couchsurfing mas o resto parece-me absolutamente delicioso.