São três as ilhas Gili, localizadas ao largo de Lombok. Gili Trawangan, transformada em Meca mochileira, com bares e festas e raves e álcool até altas horas; Gili Meno, com poucas infraestruturas turísticas e menos desenvolvida; e Gili Air, um meio termo entre Trawangan e Meno, onde há de facto muitos bungalows e cafés de praia, mas onde a noite acaba cedo (ou nem começa), as ruas são de areia e o transporte carroças puxadas por cavalos. Optámos por ficar na Gili Air.
O grande objetivo da passagem pelas ilhas Gili era descansar após liderar mais uma edição de uma viagem ao Irão para a agência Nomad, passar algum tempo na praia, fazer snorkelling e, se possível, mostrar à Pikitim as tartarugas que por ali nadam, apesar do estado calamitoso dos recifes de coral.
O facto de boa parte dos corais estarem mortos não era propriamente novidade para mim. Quando passei por Bali, em 2004, já se falava nessa fatalidade. De então até hoje, só poderia ter piorado. Mas ver com os meus próprios olhos foi como uma chapada na cara. Eu que adoro o mar, o litoral, as pequenas aldeias de pescadores, fazer snorkelling e até mergulhar. De máscara na cara, não parava de abanar a cabeça ao olhar para o fundo arenoso em frente às praias de Gili Air. Quase todos os corais estavam mortos, partidos em mil pedaços, espalhados pelo fundo do mar e pelos areais. De vez em quando, vislumbrava-se de um ou outro pedaço de coral vivo, rodeado dos peixes que eu gostaria de ver em maior quantidade. Infelizmente, as águas das Gili estão quase desertas.
Dizem que a utilização massiva de explosivos na pesca foi uma das principais causas da tragédia ecológica. Outros atribuem grande responsabilidade aos fenómenos El Niño de 2007, que provocou alterações significativas na temperatura da água. Outros ainda acreditam que o aquecimento global está, aos poucos, a matar os corais das Gili, tal como em muitas zonas do globo.
Seja qual for a verdade, não há dúvida que o homem tem uma boa parte na responsabilidade na destruição do ecossistema marinho ao largo das ilhas Gili. Sejam as técnicas destrutivas dos pescadores ou a ação inconsciente dos turistas (em todo o lado se vê snorkellers de pé em cima de corais). Ou ainda pela ação de quem, nos tempos modernos, depende desses recursos para viver, pela ação do turismo.
Certo dia, decidi participar num tour para ver tartarugas ao largo das ilhas Gili. Parámos em locais onde praticamente não havia corais vivos. O guia da atividade de snorkelling, ao ver uma tartaruga no fundo do mar, mergulhou, tocou na pobre criatura fazendo-a nadar o mais que pode, apenas para que os turistas a vissem nadar. Se eu não tivesse visto com os meus olhos, não acreditaria. É demasiado triste para ser verdade. E assim as ilhas Gili se vão suicidando. Alegremente.
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