Assim que entrámos no imponente hall das torres Petronas, um cartaz chamou a nossa atenção. Anunciava três espetáculos da Orquestra Filarmónica da Malásia, cuja casa é o magnífico teatro Dewan Filharmonik Petronas, em Kuala Lumpur. O espetáculo, intitulado Little Red Riding Hood (Capuchinho Vermelho), era dirigido por um maestro britânico, e estava classificado como para maiores de quatro anos. A Pikitim gosta de música e a sala é deslumbrante, pelo que decidimos ir.
Passámos na bilheteira com a nossa habitual roupa de viagem (que, como se imagina, é composta por havaianas, calções, t-shirts e outras peças que tais), perguntámos pelos bilhetes e decidimos comprar. Não havia dos bilhetes mais baratos (na verdade, os bilhetes disponíveis custavam bem mais do que gostaríamos de pagar), mas nem isso nos demoveu. Foi quando, mesmo antes de concluída a transação, o empregado fez questão de confirmar: “sabem que o dress code para assistir aos concertos é smart casual, não sabem? Camisolas sem colarinho, sapatilhas, calções e calças de ganga não são permitidos”, concluiu. Olhámos um para o outro, confirmámos o conhecimento e compramos o bilhete para o dia seguinte.
Foi só quando chegámos a casa que caímos na realidade: não temos roupa para ir ao concerto. A Luísa queria ir de calças de fato de treino e sapatilhas pretas (“pode ser que não se apercebam”); eu pedi uma camisa emprestada aos meus anfitriões da USD Holiday Malaysia, mas calças não havia. Se queríamos mesmo assistir ao concerto, tínhamos de ir às compras.
Manhã seguinte, dia do espetáculo, Steff e Shimi guiaram-nos a uma grande superfície da Tesco, porque era “barato” e lá de certeza iríamos “encontrar qualquer coisa”. Eu encontrei umas calças de homem respeitável a combinar com a camisa emprestada, a Luísa comprou um vestido de noite preto (em saldos) e umas sabrinas de plástico que, segundo Shimi, homem ligado à moda, “pareciam da Channel”. Não me atrevi a discordar.
Regressámos a casa já seguros de poder assistir ao concerto da Orquestra Filarmónica da Malásia na Dewan Filharmonik Petronas e proporcionar à Pikitim mais esta nova experiência. Tínhamos umas duas horas antes de sairmos para o concerto vespertino quando Shimi se ofereceu para maquilhar a Luísa.
E foi então que, sentada no escritório da guesthouse, Luísa, minha mulher e companheira de muitas batalhas, que raramente vejo maquilhada ou demasiado “produzida”, se transformou em algo totalmente novo. Base, maquilhagem para o rosto, trinta minutos a pintar os olhos, depois rímel nas pestanas, laca no cabelo, sobrancelhas penteadas, dezenas de pincéis, cores e pozinhos, de novo nos olhos e mais-não-sei-o-quê-que-Shimi-lhe-colocou-na-cara e tinha à minha frente uma pessoa pronta a entrar na gala de entrega dos Óscares em Hollywood (ok, talvez seja um exagero, quanto mais não seja por causa das sabrinas de plástico, mas que a esposa ficou vistosa, lá isso ficou).
Quanto à Pikitim, que também vestiu o segundo melhor vestidinho que trazia na viagem (o primeiro sujou-o mesmo antes de sairmos da guesthouse) e pediu para Shimi lhe pintar os lábios, adorou ver a mãe naqueles preparos e concordou que ela estava bonita. Mas, apesar do esmero de Shimi, havia um reparo a fazer: “Ó mãe, estás muito gira, mas escusavam de te ter colado o cabelo à cabeça”.
E assim fomos nós, quatro da tarde, “empiriquitados” para assistir ao concerto da Orquestra. Sentia-me um pouco desconfortável de camisa (coisa rara) passada a ferro e com as novíssimas calças escuras, vincadas à frente. Ainda para mais, numa cidade como Kuala Lumpur onde a humidade facilmente ultrapassa os 90%.
Chegamos ao foyer do Dewan Filharmonik Petronas em cima da hora. Havia algumas bebidas e petiscos e pais com crianças à espera de entrar na sala. Não havia de facto espetadores com calças de ganga ou t-shirts sem colarinho, tal como não havia ninguém com ar de primeira-dama. Talvez o smart casual se aplicasse mais à noite que à tarde. Éramos, provavelmente, os mais bem vestidos da festa.
sandra diz
A Luísa ficou maravilhosa.