Lembro-me perfeitamente do dia em que me reuni pela primeira vez com o diretor da escola da minha filha para lhe contar o nosso projeto de viajar durante um ano. Fi-lo com muita antecedência – marquei a reunião em fevereiro, e a nossa volta ao mundo em família só arrancaria no ano seguinte. E se me lembro bem, foi porque a reação do diretor me marcou profundamente.
Temi com a primeira frase. “Não é uma situação que me coloquem com frequência. Deve ser a primeira vez que vou colocar essa questão à direção da Associação [que gere todos os jardins-escola João de Deus]”. Mas logo a seguir tudo mudou. Ele tinha a expectativa de que todas as questões burocráticas e financeiras tivessem remédio, porque ele já estava entusiasmado com o nosso projeto. A reunião foi de manhã, e ao fim da tarde já tinha a resposta de que precisava. “Com um projeto da dimensão do vosso, a minha preocupação é que sintam que deste lado já não têm que se preocupar com nada. Concentrem-se noutras coisas”, disse-me pelo telefone.
Eu gostei verdadeiramente desta atitude. Apreciei o facto de o diretor da escola da minha filha sentir pressa em atenuar, no que lhe era possível, a verdadeira corrida de obstáculos que tínhamos pela frente. Mas só percebi o seu grau de entusiasmo quando, a nosso pedido, nos enviou um texto com o seu entendimento do que deveria ser “A Educação dos nossos filhos”.
Nesse texto escreve uma afirmação que me arrebatou: ”Num Mundo perfeito, a Escola perfeita teria nos seus currículos a obrigatoriedade de viajar; de interagir com culturas diferentes, com religiões diferentes, com sociedades diferentes. Seguramente ‘prepararíamos’ adultos mais responsáveis, mais tolerantes, mais compreensivos, mais sábios”. Quando é um professor com a competência pedagógica deste diretor quem o escreve, eu sinto que já não consigo acrescentar mais nada.
E na escola da Pikitim souberam aproveitar a viagem. Havia contacto regular, correspondência trocada, mensagens de saudade e partilha de experiências. Na parede da sala de aula estava afixado um mapa-mundo a sinalizar por onde andávamos. Ou seja, ela estava longe, mas nunca deixou de fazer parte daquele grupo. Um trabalho notável dos professores, e uma amizade que emocionou vinda de crianças tão pequenas e já tão maduras. O mundo não é perfeito, mas a Pikitim anda numa escola que fica lá perto.
PS – Fui durante alguns meses cronista do portal Sapo Crescer – que entretanto mudou de nome, para Sapo LifeStyle. Por considerar que alguns textos permanecem actuais, e por já não os encontrar online, republico-os aqui.
PS2 – Também já contei como foi a emoção de ir falar sobre viagens com crianças na escola da Pikitim
Rodrigo Viterbo diz
Fantástico! Obrigado pela partilha…
Laira diz
Que legal, Luísa! Foi sensacional o apoio da escola!!
Tenho uma filha pequena (1 ano e meio) e sonho em viajar o mundo em família também. Seu relato foi uma ótima inspiração!
Abraços,
Laira
margarida monteiro diz
Luísa, comecei a seguir o seu blog muito recentemente, mas a verdade é que já sou “viciada” 😉
Comecei por ler tudo relativo às Famílias Vagamundos, e adorei claro… agora tenho andado à descoberta do resto 🙂
Muitos parabéns por este fantástico blog… votos de sucesso
Luísa Pinto diz
Obrigada pelas palavras, Margarida!Seja muito bem vinda!