Ultrapassados os preconceitos sobre viajar com crianças de forma independente, a questão mais premente rapidamente se torna a escolha dos destinos a visitar. Locais favoráveis à estadia com os mais pequenos. Sítios interessantes, sem um grau de dificuldade física muito elevado, de preferência com condições de alojamento mais do que aceitáveis e que, simultaneamente, minimizem os riscos associados à saúde e à segurança – estes últimos dois dos critérios mais valorizados pelos progenitores na hora de escolher os destinos da viagem.
Pela minha parte, sou um viajante experimentado e não preciso de luxos na estrada. Quando viajo sozinho (quase sempre), durmo sem problema no chão de um ger mongol, num comboio indiano ou numa rede nas margens do Amazonas. Valorizo o contacto com os habitantes locais, e isso leva-me muitas vezes a pequenas aldeias com condições básicas. Mas esta viagem é diferente.
Acompanhado por uma criança a fazer cinco anos de idade, olha-se mais vezes para o mapa com as áreas de risco de malária e dengue. Na hora de selecionar destinos, pensa-se em atividades que lhe possam interessar – como visitar um oceanário ou fazer snorkelling, um parque de diversões ou áreas verdes para piqueniques, e não tanto nos monumentos e patrimónios UNESCO. E há ainda que averiguar se as unidades hoteleiras da região alojam crianças – porque a verdade é que há muitas que não as aceitam como hóspedes.
Escrevo este texto meses antes da partida, na fase final do planeamento, e é previsível que vá moldando a minha perspetiva sobre este assunto ao longo da volta ao mundo. Em termos de destinos, tenho a convicção de que, genericamente, litoral e praia funcionam bem, especialmente se as águas forem calmas, transparentes e com abundante vida selvagem. Recifes de coral, por exemplo. As montanhas são ambientes mais difíceis para criaturas de perna pequena, e as temperaturas extremas, seja do deserto ou dos ares glaciares, são de extrema dificuldade para as crianças. Grandes cidades podem ser uma dor de cabeça ou o paraíso, dependendo da oferta da urbe em termos de atividades para os mais novos, da animação de rua e do caos do trânsito e poluição – Roma, por exemplo, foi uma experiência memorável para a pequena Pikitim.
Mas também creio que, acima de tudo, tão importante como o destino é o ritmo que se imprime à viagem. É preciso viajar devagar, com tempo de serem criadas rotinas, sem saltitar a cada par de dias para uma nova cidade. É precisamente isso que tencionamos fazer, mas sobre esse assunto escreverei mais tarde, com as conclusões práticas da aplicação da teoria.
No caso concreto desta volta ao mundo, a solução encontrada para o itinerário foi juntar a vontade de conhecer territórios que pai ou mãe nunca visitaram – nomeadamente na península malaia, no Pacífico Sul e na costa oeste da América do Norte – e onde previsivelmente possa ser agradável estar em família, com a preocupação de proporcionar à petiza experiências que a fascinem e a marquem positivamente, sem que as questões de saúde ou segurança estejam no topo das nossas preocupações quotidianas. A experiência de participar num safari no continente africano, por exemplo, ficará para quando a Pikitim estiver mais crescida.
Cidades como Vancouver ou Perth, por exemplo, saltam à vista quando o assunto é atividades para crianças. Bali é fácil, descontraído e provocador ao mesmo tempo. Viajar de autocaravana da Nova Zelândia é com toda a certeza uma experiência inesquecível para uma criança. E as ilhas do Pacífico, como as Fiji, a Nova Caledónia ou as Cook, ambientes únicos de descoberta e contacto com a Natureza.
Mas, bem vistas as coisas, todas as vezes que olho o planisfério sou assaltado pela mesma dúvida: as zonas pintadas a vermelho vivo no mapa-múndi, onde a malária é endémica, que ainda permanecem no itinerário. É o caso de Java, das ilhas Gili, das Filipinas e de Vanuatu. Valerá a pena o risco a que exponho a minha filha?
Rodrigo Irala de Moura diz
Olá amigo. Adorei sua página. Tenho uma filha que agora tem 7 meses. Já fomos com ela pra Venezuela, Guiana e Uruguai, mas tenho medo de ir a Cuba com ela, por causa da falta do básico, como material de higiene. O que você acha? Preciso saber principalmente se há doenças como malária e dengue, e se as frutas são de boa qualidade. Obrigado.
Luísa Pinto diz
Olá Rodrigo
Obrigada pelo seu contacto. Nós já estivemos em Cuba há uns anos atrás e achamos que era bem fácil viajar.
Não sei porque quanto tempo planeiam ficar por lá, nem que tipo de alojamento estão a considerar – nós ficamos em alojamentos particulares, um pouco por toda a ilha, e valeu bem a pena; e há muitos hotéis, de todas as categorias. Mas com um bebé tão pequeno, eu aconselharia a levar todo o material de higiene básico – as fraldas, os toalhetes, champôs, etc. Se bem que não vale a pena complicar, lá também tem criança, e também tem bebés…
As ultimas noticias dão conta de que não há malária em Cuba; sobre dengue, não temos a certeza. O melhor mesmo é tomar tomar todas as precauções relativamente aos mosquitos trazendo o bebé bem tapado (roupas de algodão, frescas, mas a tapar todo o corpo, penso que é a melhor solução). E ficar bem atento no caso de aparecerem febres. Será melhor ver isso com o pediatra da vossa menina. Tem mais é que acreditar que vai tudo correr muito bem, e que vão ter uma ótima experiência.
Boas viagens!